Saudação

Olá! Este é um espaço de escrita criativa com um toque de humor, e expressão da minha vontade de me aproximar do poder revelador das palavras. Testemunho do meu envolvimento com a palavra com arte, e um jeito de dar vida à cultura que armazeno. Esta página é acessível (no modelo básico) também por dispositivo móvel. Esteja à vontade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Reencontro

Por George W B Cavalcanti

Imutável e fiel se fez vivo o chamado,
Enquanto o tempo tangia os meus dias,
Foi tão árdua a senda a seguir nessa lida,
Que quase não senti que o tempo se esvaia;
O coração tem na mente a distância relativa.

Mas, bem fiz em prosseguir e assim alcancei,
Quando meu buscar o encontrei na esperança,
Na certeza de que era a luz do bem que guiava,
No rumo da estrela assentada em azul e branco;
Do coxo na peleja com o anjo existe a fiel herança.

Caminhei em incansável busca passo a passo,
Num espaço demorado num tempo que nem sei,
Se em cada passo dado dias ou anos se passaram,
Até fazer por merecer do meu povo melhor abraço;
Incontáveis estrelas como os grãos de areia da praia.

Mas, tropecei e caí sobre tantos cumes e gumes,
No esforço de não ferir alguém nesse curvo espaço,
Que evidentemente existe entre a mente e o coração,
Acolá onde habita a pureza que sobrevive na criança;
Repositório de uma fé que nutre toda a boa esperança.

É sublime o reencontro e abençoado o diálogo,
Em que se faz ouvir o amor tanto tempo guardado,
No pão e no vinho em memória do verbo ressuscitado,
Palavra que enfim alcança a quem sinceramente busca;
Promessa e resgate certo em pacto eternamente firmado.

Razão e emoção festejam em consagrada dança,
Do povo sacerdotal e herdeiro do mundo vindouro,
A oliveira verdadeira tendo um ramo novo enxertado,
Que faz soar ao mundo o shofar com som da nova aliança;
Principado do reino onde a mente terá no coração um aliado.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Introdução à botica, episódio 2 – ‘circenses’, 2ª parte

Por George W B Cavalcanti


Havia alguns dias uma vistosa e barulhenta 'fobica' – de lustrosos bojos e opulentos faróis – equipada com enormes bocas de ‘auto-falante’ anunciava por toda a cidade e vizinhanças a chegada ‘para breve’ – nunca em uma data exata porque as estradas eram péssimas – de um famoso grande circo com atrações ‘estrangeiras’ e até, pasmem, feras africanas e seus destemidos domadores. A expectativa era geral e o vento morno dos trópicos colaborava, espalhando um frisson na criançada que corria atrás da geringonça antegozando as emoções do picadeiro. Mas, em meio às correrias e pinotes, se mantinham em estado de alerta para com quaisquer figuras que fugissem a tipologia nativa ou tivesse algum aspecto alienígena.

Coincidentemente, o meu pai, minha mãe e o meu irmão mais velho formavam uma pequena trupe que à brejeira observação apresentavam um padrão incomum e com certeza estrangeiro e artístico –; a avaliação inicial era: só podiam ser embaixadores do anunciado ‘gran circo' e, não era para menos. Até porque o menino chegara vestindo calças curtas de legítimo tropical inglês ‘risca de giz’, conjunto de suspensórios e cinturão em couro legítimo, sapatos bicolores, meias de seda, camisa de Jersey e cabelo à ‘Jacques Dennis’ com seu característico topete. Parecia o típico pequeno lord inglês dos filmes em branco e preto que assistiam no abafado cinema local –; quando havia suficiente energia elétrica da problemática unidade geradora mantida pela prefeitura.

O meu pai então um bem apessoado descendente de italianos e portugueses do ‘sefarad’ ibérico apresentava um físico avantajado para a estatura, uma vez que durante bastante tempo se dedicara ao fisiculturismo pelo método ‘Charles Atlas’ e com ‘Remosan’ – este, um equipamento de remo no seco –, o que lhe conferira notável robustez e definição muscular. Aquela tamanha aparência era encimada por uma vasta e sedosa cabeleira, cuidadosamente cultivada com o uso regular do tônico capilar ‘Vitallis’ das propagandas do rádio. Resultando que, compararam os pulsos dele às partes mais grossas do antebraço de um homem comum.

Já a esposa, ou seja, a minha mãe, no fulgor dos seus vinte e poucos anos, era uma bela flor que desabrochara toda sua graciosidade ‘sefaradim’ herdada de suas ancestrais ibéricas –; e, portanto, apresentava uma tez moreno-clara uniforme e acetinada. Sua fisionomia delicada de sorriso perfeito e recatado – idêntico aos ‘reclames de pasta de dente’ – era emoldurada por fartas madeixas –; e, a ressaltar-lhe o lânguido olhar suas bem delineadas sobrancelhas e cílios negros “como as asas da graúna”. Além do mais, a jovem senhora era dona de um torneado corpinho capaz de dar inveja a manequim de modista.

No pequeno hotel logo após a chegada dos incomuns hóspedes as serviçais da casa já se esgueiravam entre cochichos, mal disfarçando os seus olhares esbugalhados de curiosidade face ao exótico núcleo familiar oriundo da fascinante cidade de Recife –; então a mais promissora capital da região e terceira cidade mais populosa do país. O trio notável se dividia em atenções e a curiosidades para com a cidade que consideravam a nova seara para seus próximos anos. Assim, trataram de retirar a poeira e o enfado com um bom banho e, juntos, saíram ao centro urbano para um périplo de reconhecimento e adaptação.

Não foi outra a postura senão cumprimentar gentilmente os passantes a grosso, varejo e a granel e, não deu outra... Olham uns daqui, chamam umas dali, correm outros acolá -; e, não demorou muito, a noticia das exóticas presenças ‘no comércio’ correu meio mundo com rapidez e resultados hilários, para dizer o mínimo. Vendedoras das lojas correram para as portas – seguidas pelas patroas –, servidores públicos encerraram mais cedo os expedientes. E, formavam aglomerações curiosas com uma dissimulação acintosamente indiscreta – todos ansiosos pela primazia em ver os supostos integrantes da tão aguardada grande companhia circense nunca dantes vista por aquelas plagas.

O clima reinante era de puro e criativo devaneio coletivo que, naquele tempo - num misto de alienação e ingenuidade -, a imaginação interiorana ainda proporcionava.


(continua proximamente)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Nem Tudo na Rede É Peixe

Por George W B Cavalcanti


Fundir chip e bits em tanta intelectual preguiça,
Parece não recuperar tal curta memória coletiva,
Porquanto gente que por ignorância não repensa,
Porque acredita que se muito o pensa enfim surta;
Quando surto é inerente ao pensar inconsequente.

Tanto no ter que contenta o viver fisiologicamente,
Quanto ao partícipe de uma dimensão em mudança,
Ciente da unicidade que é consumir e ser consumido;
O genético ou o imponderável pode levar à demência.

Aí percebo a humanidade debater-se em pleno sono,
Qual turba sonâmbula a vagar de engano em engano,
Sem despertar do que mais parece um torpor profundo,
Alheia a esperança de vida seja neste ou noutro mundo.

Então não me censures de tal maneira fria e inclemente,
Quando não te questionas porque permaneces no umbral,
Jamais moves a tua mente em busca de receberes mais luz;
Caminhar para descobrir a paisagem vista desse outro ponto.

Vem, se o quiseres saber eu te ensinarei a achar esse caminho,
Flores, espinhos e pedras também, mas tudo a te servir de piso,
Para que te chegue a essa rara janela de onde eu vejo o mundo,
Tornado caótico e árido pelo abandono imaturo ao primeiro amor;
Aquele, eterno e espontâneo que é comunhão com o seu rebento.

Assim, não reclames do vazio na festa e da aridez que há na rotina,
Quando tens nos teus olhos cobertas e recusas que te tire a venda;
Imagens se confundem com miragens nesse teu deserto de ausência.

Recolhes fragmentos de um coração partido que não se emenda,
Em reflexos de um quebrado espelho com imagens da consciência,
Porque a ignorância em vão labuta na seara da pureza de intenção,
Perdida no vazio que há na tua pouca leitura de textos e de mundo;
Tornando a empatia semimorta a ressuscitar tantas emoções falidas.

Tantos são os injustos julgamentos e sentenças proferidas e escritas,
Quando dizes que sou a pessoa mais solitária que um dia conheceste,
Bem sei que é muito fácil a inépcia lançar mão dessa cortante desdita.

Se o ao ego sedento sacias com essa mesquinha vitória sem benefício,
Há um mútuo desconforto quando a nossa preciosa amizade desabilitas,
E, dás lugar à resposta idônea e nobre por não fazer rastejar o coração;
Porque muitas vezes a solidão é um preço a pagar quando se tem opinião.

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