Saudação

Olá! Este é um espaço de escrita criativa com um toque de humor, e expressão da minha vontade de me aproximar do poder revelador das palavras. Testemunho do meu envolvimento com a palavra com arte, e um jeito de dar vida à cultura que armazeno. Esta página é acessível (no modelo básico) também por dispositivo móvel. Esteja à vontade.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Introdução à botica, episódio 2 - 'os circenses', 1ª parte

Por George W B Cavalcanti


Todos nós após a primeira lufada de ar nos pulmões e de botarmos ‘a boca no mundo’ com o nosso indefectível ‘berreiro’ com que anunciamos a nossa chegada nessa vida, passamos – embora em condição de dependência enormemente maior do que a das outras crias animais – a aderirmos à ‘TV’, inexoravelmente. Saliento, pois, que não me refiro à nossa cada vez mais precoce condição de compulsivos telespectadores –; mas sim à regra básica de sobrevivência que é a da diligencia e da superação na preeminência existencial -; também conhecida com lei do ‘Te Vira’.

Nesse afã somos levados, pelas necessidades crescentes e pelo imponderável, a desenvolver – com maior ou menor talento – a nossa habilidade de improvisação na criação de soluções imprescindíveis e emergenciais para os desafios do cotidiano. Isto se traduz, pois, também como ter ‘jogo de cintura’ e, figurativamente, ‘darmos nó em pingo d’água’ para seguirmos vivendo e alcançando objetivos individuais e/ou coletivos. E, assim, da mesma forma aconteceu com os meus genitores no seu início de vida matrimonial e já com um filho –; e, lhes rendeu uma história.

Meu pai, então cabeça da família foi, por assim dizer, como que ‘compulsoriamente convidado’ pelos primeiros patrões dele, a transferir-se com seus dependentes “de armas e bagagens” – em decorrência da fatalidade descrita no episódio anterior que se abatera sobre o seu predecessor na gerência da botica – para a interiorana cidade de União dos Palmares na zona da mata alagoana. E, a fim de prover o gerenciamento da botica local pertencente ao pequeno laboratório químico- farmacêutico no qual trabalhava até então na capital pernambucana.

A viagem do pequeno clã até a terra do histórico quilombo chefiado por Zumbí foi feita de trem da então ferrovia Great Western Railroad S.A. – ramal Recife-Maceió – e, no vagão especial de passageiros denominado de ‘reservado’ –; um luxo seletivo, por ser o único da composição a ter poltronas numeradas vendidas antecipadamente. Os ocupantes tinham direito, entre outras mordomias, a forro limpo e de tecido de algodão no encosto da cabeça e todo o necessário serviço de copa, ali prestado por solícito “ferromoço” –; invariavelmente ingleses ou descendentes já aposentados. Quase todos circunspectos corados gorduchos, sempre muito gentis. Um charme em pleno nordeste brasileiro.

Naqueles momentos de calculada aventura, de desbravamento e de pioneirismo às margens do rio Mundaú, a melhor pousada da cidade era o bem conceituado hotel da Dona Genú e, que tinha como dístico: ‘ambiente inteiramente familiar’ escrito em uma pequena placa logo na entrada. Era na verdade uma grande casa de família adaptada à sublocação como sustento e sobrevivência e, onde, mediante a intermediação de funcionários da mencionada botica local, o novo administrador da unidade farmacêutica e seus dependentes passaram os seus primeiros dias na nova localidade.

Eram tempos do bucólico torrão nos quais – além das comemorações cívicas e das festas populares do calendário religioso –, poucos eventos alteravam o seu marasmo provinciano tanto quanto o anúncio da chegada de um circo de maior porte. Até porque os congêneres mambembes e vulgarmente chamados de “penico sem tampa” – porque, pobres, não dispunham de empanada de cobertura – estavam sempre por ali, acampados num dos muitos terrenos baldios. E que, rotineiramente, soltavam pelas ruas da cidade os seus palhaços com longas pernas-de-pau e cara pintada –; os quais, em meio a animado séquito empoeirado, vociferavam em cone de folha de flandres a “grande função logo mais a noite”. Mas, coincidentemente, não no período no qual os meus pais estavam recém-chegados à cidade.

(continua proximamente)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Café com nuvens

Por George W B Cavalcanti


N
a tarde anterior, enquanto digitava um novo ‘post’, ocorria lá fora um início de tempestade outonal com o característico intermitente ressoar de trovões. E, durante aqueles momentos de suspense climático pensei em, até cautelarmente, desligar o equipamento. Mas, a esperada seqüência de precipitação pluviométrica torrencial não ocorreu e, consegui lograr êxito na tarefa. Ou seja ‘dar à luz’ mais um rebento literário –; uma vez que cada novo texto produzido, equivale a um novo filho que nasce. Sim, porque a o intelecto com a arte criam novos entes significativos que vão aos poucos ganhando vida, personalidade, beleza e capacidade de diálogo com outras mentes e suas teses.

No entanto, apesar dos assombros invernosos precedentes, a noite gestou um belo amanhecer com um tempo bom e estável com leves conotações de fim de verão, típicas do período –; mas nada que o aromático café que eu sorvia com pão integral e queijo branco não pudesse compensar. E, naquele momento em que rotineiramente permaneço em um silêncio quase contrito, percebi sobre a antiga mesa de madeira sucupira, o convite da luminosidade matinal promissora. Cenário aquele favorável tanto para a atividade ao ar livre e para o lazer quanto à contemplação e reflexão –; mas, o enlevo ofertado me fez escolher a segunda alternativa, como descrevo a seguir.

Era o cenário costumeiro de um domingo bucólico de pequena cidade interiorana, embora sua comunidade apresentasse especial agitação –; com a cacofonia de seus automóveis equipados com os tais ‘som bobo’ em alto volume e, a impor o gosto musical duvidoso dos condutores aos nossos ouvidos indefesos. E, também por um simplório ‘carro-de-som’ que, propagandeando, conclamava a ‘família palmarina’ e a comunidade em geral para, logo mais à tarde, participarem da tradicional e folclórica ‘procissão do mastro’. Evento aquele que, resumidamente, constitui-se de um concorrido périplo de fiéis devotos em desembalada carreira ao conduzir às costas, até a praça da igreja matriz, o longo madeiro no qual posteriormente fariam desfraldar a bandeira com a efígie da santa.

Com algum esforço voltei a concentra-me na energia especial da refeição e apenas ouvia ao longe o repicar de um plangente sino a confessar que ele era o mesmo, tanto quando convidava para a celebração quanto quando anunciava o sono dos que neste mundo já não mais celebravam –; meus olhos marejaram. Foi quando ouvi o cantar da plumária e saltitante ‘garricha’ – de tantas recordações da minha infância – com sua melodia curta e simples que, naquele instante parecia dizer-me: “Hei! Escuta, bem sabes que sou pequenina, frágil, marrom e ocre, bico fino e curvo, nada vistosa e, que só me alimento de pequenos insetos. E mais, que para mim não existem domingos, 'dias santos' ou feriados, pois tenho que prover o meu sustento e o dos meus pequeninos, quando vocês nos permitem. Contudo, estou sempre por aí, pelas frestas das vossas moradias a colher insetos, a livrá-los de pragas e a ajudar a equilibrar o meio-ambiente”.

Na seqüência completei mentalmente o que me parecia dizer o passarinho, reconhecendo como e o quanto ele – com toda a sua simplicidade – celebrara esplendidamente à vida. Naquele instante, levantando-me, com alguns passos alcancei o alpendre da nossa casa, onde me aguardava a minha ampla e confortável rede tecida em puro algodão. E, nela embalado, o meu campo de visão estava tomado pelo firmamento e, nele, outro não era o cenário senão o das suas muitas nuvens estáveis e serenas, naquele momento que me pareceu eterno. Lá estavam nuvens como se fossem grandes rebanhos de ovelhas apascentadas e, cujas alvíssimas lãs fora ali coladas. Suspensas naquele imenso lençol de um azul puríssimo banhado de luz e, generosamente estendido sobre todos nós.

Foi um momento daqueles de nada pedir e tudo agradecer –; até porque todo transitório permanece por misericórdia e concessão do Eterno.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Momento Paraíso

Por George W B Cavalcanti


Sombras em silêncio acariciam o entardecer,
Ao rito das vozes contritas em suave enlevo,
Para que o dia acalentado adormeça a fonte;
Fugaz fulgor apraz uma reverência esplêndida.

Fascinante hora inspiradora dos sons ancestrais,
E um timbre etéreo e límpido que no céu se esvai,
É louvor que a cantar promessas esperanças traz;
Tempo carrilhão lança na imensidão as notas finais.

Mágico é o piano em tênue prelúdio essa vez mais,
Em suave trilha e no êxtase que faz um som de paz,
Que brota de marfim e ébano boa harmonia humana;
Arrebatada alma de coração escuta o som do refletir.

Ouve e ora, porque nessa harmonia há o amor velado,
No apelo luminoso do sol nos umbrais dantes visitados,
Nas áureas águas beijadas pela luz que assim se esvai;
Vastidão de sons e tons alaranjados em azuis celestiais.

Percepção aguça no apogeu da lida o adormecer da vida,
Quando à sombra descansa um esplendor que a sí recolhe,
E escolhe a ti e a mim para vivermos quando sopra a brisa;
Imagens luminosas que inundam a alma ao som de melodias.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

'Froudelândia' e seus exóticos personagens - a gênese

Por George W B Cavalcanti


A
ntes, alerto ao leitor que a pronúncia correta e adotada, no caso, é Fraudelândia –; o 'ou' com o som de 'au', como na pronúncia da palavra ‘mouse’ /maus/ (camundongo ou, o tal periférico de PC parecido com um rato) em inglês. E, esclarecido isto, vamos à estória.

Era uma vez, numa distante e exótica região do planeta, um país então chamado Froudelândia; no qual durante muito tempo prevaleceu um traço cultural que, após estudos abalizados foi denominado pela comunidade científica como: acometimento de ‘sociopatite’ (ou bandalheira endêmica) por falta de saneamento ético público e privado.

Eis que, por um daqueles ‘azares da sorte’ daquele povo, lhes nasceu o seu mais emblemático habitante – guindado à condição de ídolo nacional durante bastante tempo – o qual, por analfabetismo funcional do pai, da mãe e da parteira, foi civilmente registrado com o sugestivo nome de ‘Froudêncio’ (olha lá, a pronúncia é inglesa, lembra?). Certidão aquela decorrente de arroubo nacionalista ufanista e característico –; vez que, seus pais eram daqueles que não sabiam exatamente o que vinha a ser uma nação. Mas que, não tiravam a camisa da ‘seleção canarinha’ nos períodos em que duravam aquelas “copa do mundo”, nem para dormir.

No entanto, o genitor do robusto rebento era um 'fisiológico' deputado, membro do alcunhado ‘baixo clero’ da Câmara Federal de antanho. E, portanto, o sagaz nascituro – que viera à luz com oito meses e meio – teve todas as despesas de sua 'estréia', digo, nascimento, inteiramente cobertas (leia-se, pagas pelo erário público) por uma das rotineiras mamatas nacionais –; candidamente denominada de “Plano de Saúde Parlamentar”. Uma das tantas incongruências aprovadas – em plena crise econômica global da época – pela Mesa Diretora daquela casa de leis nacionais “lá pelos idos” de janeiro de 2009.

No tal Congresso Nacional – se é que aquele aglomerado de ávidos egos assim poderia ser denominado –, era costume as tais bandalheiras federais serem gestadas e paridas pelas “excelências” políticas – de todos os matizes – ‘na calada da noite’. Para ser, ato (oficial) contínuo, enfiadas ‘goela abaixo’ do contribuinte –; deglutidas e digeridas pela “galera” -; sempre com a ajuda líquida e certa de samba, suor e cerveja.

A propósito, o malfadado “Plano de Saúde Parlamentar” (hospital, clínica e/ou laboratório à escolha dos 'conveniados' e restituição integral de despesas pelo erário publico), apresentava toda uma sintomática passível de um daqueles diagnósticos – usando-se aquí o linguajar do então ‘presidente marolinha’ – nos quais, o médico instado pelo paciente (leia-se, pelo contribuinte) a dar o prognóstico, diz-lhe mais ou menos o seguinte: "Meu, sífu”.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Beverly Hills ou Rocinha?

Por George W B Cavalcanti


Quando se quer mais, se deseja conquistar um nível superior, estabelecer-se em um patamar mais elevado ou mesmo atingir os ‘píncaros da glória’, a palavra de ordem não é outra senão: ‘avançar e prosseguir para frente e para o alto’. E, podemos seguramente afirmar que esta é uma assertiva comum a todos os povos, todas as culturas, em todos os tempos e em todas as regiões do planeta. Até porque ninguém em sã consciência ousaria ligar o seu bem estar a um estado, condição ou localização inferior.

Nos âmbitos conceitual, filosófico e também – por que não dizer – teológico, o melhor, o mais seguro e o mais poderoso está sempre em local mais elevado; está no alto; senão vejamos: o céu das religiões monoteístas, o Olimpo da mitologia grega – e, Jerusalém a ‘Cidade do Grande Rei’ –, situam-se no mais elevado ou sobre uma colina. E, por que? Porque da posição superior se garante, se goza e se aufere uma infindável série de vantagens e de benesses; destacando-se entre elas: o descortinar de amplos horizontes e belas vistas, a visão estratégica facilitada, o pleno arejamento sem maiores obstáculos e, até o favorecimento natural da lei da gravidade na defesa da posição contra eventuais invasores.

“Elementar meu caro Watson!” –; como diria “Sir Sherlock Holmes”: quem está por cima tem a presunção da vantagem. A presumida e preciosa oportunidade de mandar e, de 'mandar bem’... Se tiver suporte logístico, suficiente iniciativa e adequada criatividade. Atributos estes que, ao longo de toda a história da humanidade, permeiam as fortificações militares, os castelos reais, os monastérios e os retiros espirituais –; todos preferencialmente edificados, estabelecidos e mantidos nos altiplanos.

Movida por este basilar entendimento aplicado ao aproveitamento de seus aspectos topográficos e mediante gestão municipal inteligente é que, a cidade de Los Angeles do estado norte-americano da Califórnia aproveita para auferir ainda maior arrecadação de imposto territorial urbano (o famigerado IPTU na versão ‘brazuca’) e reforçar os cofres públicos. Exatamente pela devida destinação imobiliária das colinas do seu condado de Beverly Hills às mansões e outras ricas e amplas instalações de lazer e turismo. Aliás, basta dar uma ‘voltinha’ nos países mais desenvolvidos para constatar a mesma ou similares opções no aproveitamento e uso racional do espaço urbano –; todos desapropriam, loteiam e vendem seus ‘morros’ aos ricos que podem pagar mais impostos, para o benefício de toda a cidade.

Por aquelas plagas, na topografia das alturas ocorre uma especulação imobiliária danada na disputa dos terrenos elevados pelas grandes corporações do ramo da construção civil. Já por aqui – no ‘país do futebol e do carnaval’ –, as nossas áreas urbanas com topografias correspondentes são destinadas por nossos “gênios” da política, da economia e da urbanística a “colecionarmos” favelas...

Por aqui, somos atualmente uma pátria acossada e refém de uma violência fora de controle. Violência essa consubstanciada trágica e emblematicamente nas estatísticas fatais das famigeradas e ininterruptas “balas perdidas” –; que ‘chovem’ sobre os nossos mocambos e sobrados, mas não – ainda – sobre o plano piloto da capital federal.

Entendemos também que, faz-se tardia a hora – é ‘coisa prá ontem’ – de iniciarmos o anti-‘arrastão’, de irmos para as ruas e veementemente questionarmos, o mais publicamente possível, essa nossa problemática: as favelas enquanto ‘cidadelas do crime’ que nos atinge a cada minuto com uma violência absurda.

É o caso de perguntarmos: seria sensato alguém, algum povo e seu respectivo governo fugir a esta questão candente? Claro que não! E, certamente a resposta geral será uníssona e inequívoca no sentido de que, furtar-se a tamanha e axiomática equação é a mais completa e absoluta insensatez senão, insanidade ou demência.

Também sabemos que a bandidagem dá muito voto... Mas, chega! A vida dos nossos cidadãos contribuintes (aliás, contribuinte é palavra proscrita por nossos políticos, já reparou?) – e, muito especialmente a das nossas crianças e jovens, é inalienável. E, está antes e acima de quaisquer interesses políticos inconfessáveis porque cretinos e genocidas.

Que neste ano novo da era comum vivamos mais verdadeiramente o estado democrático e os nossos respectivos direitos republicanos.

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