Saudação

Olá! Este é um espaço de escrita criativa com um toque de humor, e expressão da minha vontade de me aproximar do poder revelador das palavras. Testemunho do meu envolvimento com a palavra com arte, e um jeito de dar vida à cultura que armazeno. Esta página é acessível (no modelo básico) também por dispositivo móvel. Esteja à vontade.

domingo, 28 de dezembro de 2008

O Dançarilho

Por George W B Cavalcanti


Quando chover água e rima,
Ao sabor de poética estação,
Marcando com sol o meu verso;
Ao luar vai despertar a emoção.

Sigam só o meu compasso,
Enquanto cantarem os ventos,
E dotarem meus cabelos de tons;
Desejar nos traz contentamentos.

Sigam e subam pisando firme,
Na escalada que afirma sua vida,
Ainda que dote os pés de feridas;
Essa é uma dança audaz e atrevida.

Clamem e talvez haja algum eco,
Aguardando na curva desse caminho,
E um tambor de um coração solitário;
Marca o ritmo da dança de um sozinho.

Mostrem o quanto é bela a criança,
Que mistura as lágrimas com o vinho,
Elementar néctar que preserva herança;
Não sai mais da dança dos pés femininos.

Cantem um canto que vos é amado,
Mas, escrevam o que o coração canta,
Que a imaginação dita o ritmo dançado;
Bailado íntimo a desejar com força tanta.

Alegrem-se amigas formigas e cigarras,
Ouçam a canção da vida e seu estribilho,
Enquanto a emoção faz a sua grande festa;
Corações se encantam com cor, luz e brilho.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Eu estive no topo da montanha

Org. George W B Cavalcanti*


“Rugiu o leão, quem não temerá?
Falou o SENHOR Deus, quem não profetizará?”(Amós 3:8)

Destacamos o último sermão de Martin Luther King, disponível em língua portuguesa e em inglês. Aqui no Brasil é publicado pela Jorge Zahar Editora (“Um Apelo à Consciência”) e, acessível, na íntegra em inglês pela Internet.

“Eu estive no topo da montanha” é um texto perturbador, porque o Pastor o entregou a uma Igreja lotada em Memphis, Tennesse, no dia 3 de abril de 1968.

“Então cheguei a Memphis e começaram a me falar das ameaças... Bem, não sei o que acontecerá agora. Dias difíceis virão. Mas não me importo. Pois que estive no topo da montanha. E não me importo. Como qualquer pessoa, gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem o seu lugar. Mas não me preocupo com isso agora. Apenas desejo obedecer aos desígnios de Deus. E Ele me levou ao topo da montanha, olhei ao redor e contemplei a Terra Prometida. Posso não alcançá-la, mas quero que saibam que nós, como povo, chegaremos à Terra Prometida. Estou tão feliz: não me preocupo com nada. Não temo homem algum. Meus olhos viram a glória da presença do Senhor”...

O Rev. King lembrava, na véspera de sua morte, que um outro líder – Moisés – levou seu povo a liberdade, mas não entrou na Terra Prometida (Dt 34).

A luta contra o racismo começou, nos EUA, em 1860, quando Abraham Lincoln, um republicano contrário à escravidão, venceu as eleições presidenciais americanas. Lincoln, ao assumir o posto de Presidente, declarou textualmente que os Estados Unidos eram uma “Casa Dividida”. Seu maior compromisso era acabar com a escravidão. Onze estados do Sul dos EUA, antes da posse, responderam à eleição com as armas. A guerra acabou, com a vitória dos abolicionistas, a escravidão também foi extinta, em 1865, mas o ódio prosseguia ceifando vidas – até mesmo a de Presidentes da República. Considerando que a eleição de Obama contou com inéditos votos de estados sulistas, você será capaz de entender o que levou o articulista, que citaremos a seguir, à conclusão de que, neste ano histórico, o assassinato do Pres. Lincoln e do Rev. King teriam sido, enfim, superados. Cabe perguntar: Será? Será que o racismo, explícito ou implícito, foi vencido? Será que a humanidade está pronta para mensagens de mudança, de unidade e de liberdade?

Thomas Friedman escreveu, em sua coluna no jornal New York Times que a guerra civil americana acabou no dia 4 de novembro de 2008. Mas isto não quer dizer que o racismo acabou e que após 40 anos os negros entrarão na Terra Prometida. Há, apenas, uma nova mensagem de unidade, de mudança, de superação...


Fonte: Boletim Dominical – LXII – Nº 3518 – 09 de novembro de 2008, da Igreja Presbiteriana de Copacabana – Rio de Janeiro – RJ.


União dos Palmares - AL, 05 de dezembro de 2008.

Corpo Oceano

Por George W B Cavalcanti


Mansamente deito-me atento ao seu lado,
Contemplando-lhe toda a extensão do corpo;
Quanto menos se move faz-se maior impacto,
O revezar dorsal e frontal sempre em decúbito;
Sinuoso mar afeito à nau do timoneiro motivado.

Geme mas é quase inaudível tamanho apelo,
Que se faz murmúrio marinho dentro do peito;
Ondas seqüenciais açoitam forte meu rochedo,
Quando emanam poderosas de sua plácida nudez;
Tela majestosa a me pedir moldura num macio leito.

Velado gozo na tormenta que sobrevém à calmaria,
Que nas profundezas prepara múltiplos gozos na vida;
Prenunciação sutil que há na pele do seu leitoso dorso,
Extensa e sedosa praia que me leva em êxtase às dunas;
Polivalente paisagem a oferecer deleite à criativa ousadia.

Convenientemente tudo gira em torno de seu umbigo,
Quando tento em vão encontrar a algo mais no horizonte;
Qual pomba em reconhecimento pairando sobre um dilúvio,
E, a mergulhar em vôo rasante em busca de um ramo florido;
Na superfície beijo-lhe pés, mãos e seus cabelos junto à fronte.

Todo embate em nosso abraço então se relativiza,
No preciso e imensurável deleite do eterno instante;
Um lavar de almas juntas imersas num mesmo oceano,
Quando deslizo as minhas mãos sobre a crista das ondas;
No corpo há maresia morna e na espuma sabor inebriante.


União dos Palmares - AL, 03 de dezembro de 2008.

Iniciação à botica - o acidente

Por George W B Cavalcanti


Ainda menino ouvia atentamente o meu pai contar que, no inicio de sua vida profissional formal, trabalhou em uma – prestigiosa, naqueles tempos – empresa familiar. Era integrada por dois pequenos laboratórios químico-farmacêuticos e dirigidos por dois irmãos alagoanos de São José da Laje, diplomados que eram na especialidade e que, como pioneiros se estabeleceram em Coqueiral, um subúrbio afastado da capital pernambucana.

Além dos ‘pó-secante’ e povilho – para feridas, frieira e sarna –, pomadas de manipulação, pílulas prensadas a mão, emulsões de óleo de fígado de bacalhau e água inglesa para pós-parto; a linha de produtos tinha lá seus “carros chefes” que eram: vermífugos, tônicos reconstituintes, depurativos do sangue, reguladores menstruais e o imbatível xarope ‘defensor do pulmão’ -; garantias de bons resultados para o jovem e promissor ‘pracista’.

Mediante a sua habilidade no trato com a clientela e reconhecida idoneidade, destacou-se na equipe de vendas e foi guindado à condição de ‘interessado’ –; designação oficiosa para um candidato potencial a sócio minoritário. Assumiu, pois, algumas atribuições administrativas na matriz da empresa –; para a alegria particular da minha mãe que, vivia a rezar e a passar a ‘ferro de engomar’ os ternos e os ‘apara-pó’ que integravam o escasso vestuário do marido.

Entenda-se por ‘apara-pó’ uma capa ou batina feita de brim ou bramante com funções de ‘sobretudo’ e indispensável naquelas viagens de trem como proteção contra a fuligem que saia da chaminé da “Maria Fumaça” –; a qual, 'democráticamente' lograva entrar freqüentemente pelas janelas do vagão de poltronas reservadas e encardir toda a roupa de trabalho dos distintos e seletos passageiros. Vale lembrar que tal indumentária geralmente era completada por um lustroso par de sapatos de couro em duas cores e, por um indefectível boné de feltro forrado com cetim, para proteção das cabeleiras fixadas a 'brilhantina'.

Àquela altura a organização farmacêutica já possuía sua pequena rede de boticas no interior do estado alagoano, apresentando desempenho e lucratividade a contento; e, tudo transcorreria de acordo com os conformes não fora um inesperado acontecimento que mudou para sempre o enredo. Aconteceu que, 'não mais do que de repente'- numa das suas idas e vindas por via férrea à sede metropolitana -, o então gerente da drogaria de União dos Palmares, súbita e irremediavelmente, deu lugar ao meu genitor na direção daquela unidade comercial co-irmã.

Tudo se deu porque o infeliz homem – que D’us o tenha! –; foi transitar no espaço de conexão entre os vagões de passageiros; levou um tombo e caiu fora da composição ferroviária em movimento. Naquela época aquele tipo de acidente acontecia aos incautos com alguma regularidade e o tumulto ‘in loco’, segundo relatos, teria sido geral e de grande comoção. Uma vez que os costumeiros ‘expectadores de janela’, percebendo o ocorrido, aos berros deram o alarme e logo puxaram a alça dos freios de emergência –; que, entre outras finalidades, lá estava acessível para ocorrências como aquela.

O tropel vagões afora, diz-se, foi enorme e entre trancos e solavancos da frenagem; ao som agudo de faiscante atrito das pesadas rodas de ferro nos trilho. E, quando finalmente a composição parou em meio a uma nuvem de fuligem e poeira, acudiram todos –; cuida daqui, cuida dali, mas havia perplexidade e tristeza.

Finalmente ouviu-se o soar de um estridente apito; era o fiscal do trem abrindo passagem para o maquinista e o foguista que, adentrando ambos a cena e após alguma constatação sobre o vitimado sentenciaram, balançando negativamente a cabeça: “não tem mais jeito, chamem o ‘rabecão’ porque o passageiro já passou dessa para melhor”.

(continua proximamente)


União dos Palmares - AL, 29 de novembro de 2009.

Ode a Dois Sábios

Por George W B Cavalcanti


Quantas vezes buscaram as respostas mais além,
Para que é o mal e por que é mais e sempre assim;
Razão insensível, apreços solúveis e afetos voláteis,
Ou, a justificação do cínico em displicências sem fim.

Viram o genocídio que há no desprezo aos bons valores,
O ser existencial, mutante troféu e coleção de desamores;
O nada ser compromisso e a regra tácita do puro egoísmo,
Ou, o pragmatismo ácido e seus desumanizados dissabores.

O outro não mais percebido e apenas tido como objeto a mais,
Na ilusão de um falso poder e nos apodrecimentos relacionais;
Afetos mortos e os sonhos abortados nos vazios institucionais,
E, o medo coletivizado que há na máscara dos sorrisos amorais.

Falaram também da gentil beleza que de outro modo é possível,
Na busca da verdade a revelar a integridade da humana natureza;
Usufruir a essência e a grandeza das possibilidades além do visível,
E, a vitória da ação pela inação que faz escutar a canção da inteireza.

Não aceitaram o chulo senso comum que torna os tempos perigosos,
Mas, desmontaram o pensar na tradução da lógica inerente ao modo;
Pela via dialética favorecer a coisa pública que relativiza a poderosos,
Face ao axioma do numeral ao genoma, de que a fração contém o todo.

Assim, quão atual continua Platão e seu metafórico mito,
Porque hoje, como então, a maioria não deixou a caverna;
Para sair á rua e chamar a Demóstenes, na plena luz do dia,
E, perenemente repor o azeite para a chama da sua lanterna.


União dos Palmares - AL, 24 de novembro de 2008.

A Procissão do Mastro

Por George W B Cavalcanti


Guardadas as devidas diferenças, o registro cultural e folclórico que relato a seguir é comparável – embora que em muito menor proporção – ao já globalmente conhecido “Sírio de Nazaré” que acontece anualmente na cidade de Belém do Pará -; só para se ter uma idéia aproximada.

Agora imagine a cena interiorana, na qual vem em nossa direção algo comparável a uma espécie de ‘pororoca’ humana resultante da afluência da fé e da religiosidade. Evento este que, a cada terceiro domingo de janeiro – na cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas –, tradicionalmente adentra as artérias locais e celeremente corre no leito de suas ruas e que, leva de roldão um turbilhão de emoções.

De longe se pode ouvir a sua aproximação porque o bramido ensurdecedor que emite é um misto de crendice popular, superstição e fervor religioso extremado -; expressos pela batida de pés apressados, grande vozerio e intenso foguetório. E, devoção é a palavra-chave do impactante acontecimento que remonta ao ano de 1.839 (mil oitocentos e trinta e nove) e que, a cada ano, precede aos doze dias de festejos à ‘padroeira da cidade’ -; na tradição católica romana localmente predominante.

Continuando a retroceder no tempo e a buscar as suas raízes encontramos que, em seus primórdios, a ausência de tecnologias de comunicação mais eficaz impunha aos paroquianos embrenharem-se nas matas do entorno em busca de uma árvore ‘linheira’ -; ou seja, retilínea a alta no jargão típico. E, que, em festa, erigissem o madeiro fixado ao solo em frente à igreja Matriz -; para que desfraldasse a efígie da santa como aviso de que ali estava se realizando a novena e a festa a ela consagradas.

Ainda hoje milhares de pessoas à cidade acorrem e compõem esta procissão festiva que – dispensando quaisquer sofisticações tecnológicas – mantém intacto o exótico ritual de fé desta tradição centenária. Na qual, corpos suados, braços e mãos sequiosas de fiéis devotos conduzem e soerguem o ‘mastro’-; garantindo assim a perspectiva da sua continuidade e o seu registro nas páginas históricas do nosso folclore maior.


União dos Palmares - AL, 20 de novembro de 2008.

Estudo 'Pedragógico'

Por George W B Cavalcanti


Importante lição a vida me ensinou,
E, deu-me da realidade nova consciência;
Na condição especial de absoluta minoria,
Ante o sexo oposto em didática convivência.

Cheguei a ser então a única figura masculina,
E, o relegado estranho naquele docente espaço;
Sob as imposições ditadas pela maioria feminina,
Na desvantagem numérica vivi singular embaraço.

Para elas me desdobrei em solicitude e gentilezas,
E, só consegui navegar em mar de corações arredios;
Arrebentaram em meu peito tantas ondas de tristeza.

Árduo foi trabalhar em ‘equipes’ desprovidas de carinho,
E, naquela vil condição lembrei Drummond e tive arrepios;
Estive reduzido à pedra, àquela pedra do meio do caminho.


União dos Palmares - AL, 18 de novembro de 2008.

A vida vinda de trem

Por George W B Cavalcanti


Ao longe, cruzando o ‘Vale do Mundaú ora verdejante ora esturricado por um sol abrasador, via-se com regularidade seus cogumelos de negra fuligem suceder-se em cascata densa e pesada –; por obra e graça da física permanecendo por um tempo suspensos no ar. E, tangidos lentamente pelo vento suavemente iam esvair-se na amplidão do cenário. Impactante espetáculo que, temporariamente, encardia o azul celeste e aditavam tons mais escuros às nuvens invernosas que timidamente se achegavam.

À medida que se aproximava fazia tremer o chão que, como um imenso tambor ressoava o seu barulho surdo e irrefreável; como se fora um aguardado pequeno terremoto cotidiano, quase sempre pontual. E que, ao estacionar na plataforma da estação local de embarque e desembarque de passageiros e cargas, sua presença tinha para toda a comunidade o sentido e o efeito similar ao toque de um imenso carrilhão –; que a todos conclamava para o progresso e para a modernidade.

Senha divisória de etapas no cotidiano e, das lides, compromissos e decisões individuais ou grupais. Definia se ainda havia tempo ou se já passara da hora, se ainda estava por começar algo, fazer intervalo ou de lamentar o que se perdeu. Porque em função dele se podia chegar, partir ou – tardiamente – e, com a visão do seu último vagão sumindo ao longe na curva dos trilhos –; lamentar, chorar, sentir saudades ou tentar uma odisséia qualquer para se chegar a contento ao seu destino.

Assim era o nosso querido e saudoso ‘trem de ferro’, das tantas memórias da minha infância. Instituição de transporte que à época parecia ser portentosa e definitiva, mediante aquela locomotiva algo majestosa e solene que aguardávamos com ansiedade e um renovado ‘frisson’ de expectativas. Quando o seu comboio arrebatava os espaços e as atenções de antanho após chegar célere e determinado e de – impávido e viril –, adentrar a intimidade da topografia –; pedia ‘licença’ somente ao Chefe da Estação.

Era ao mesmo tempo um aríete de vencer barreiras e resistências e uma ígnea serpente que, com os seus meneios seguia mundo a fora a dinamizar todos os ‘chacras’ sociais. Até porque o seu resfolegar cadenciado ecoando nos paredões das serranias quebrava todos os marasmos criando êxtases e delírios. Provocava sempre grande alvoroço; corações acelerados – quase a “pular pela boca” –, em quem esperava, chegava ou partia. E, era-lhes comum a ocorrência de tonturas e enjôos no devaneio das primeiras viagens.

O menino atento gostava de observar a pesada arquitetura que emoldurava as cenas na plataforma da estação ferroviária. Fervilhante de pessoas aos encontrões, crianças assustadas, carregadores de frete e, de vendedores de guloseimas regionais e frutas sazonais –; todos em frenética procissão junto à composição de passageiros. Contudo, a minha especial satisfação era poder sentir o ‘cheirinho’ dos jornais e revistas novas encomendados ao jornaleiro do trem por meu pai –; e, que eu folheava avidamente enquanto saltitante os levava para casa. Era um incansável ritual que, pontificando aquelas tardes de domingo, aditava ao pequeno burgo ‘pitadas’ dos exóticos temperos e costumes das metrópoles.


União dos Palmares - AL, 14 de novembro de 2008.

O Amor do Meu Ser Feliz

Por George W B Cavalcanti


Jóia do meu lúbrico imaginário,
Modelo de mulher e anônima musa;
Holograma irremovível do meu sonho,
Tua presença destrona a injustiça afetiva,
Que faz do estar só um pesadelo medonho.

Não há outro, ou mais, eu te garanto,
Outros vês e, no entanto são todos nulos;
Loquazes arrivistas de ilusória consistência,
Pontual frivolidade a consumir esse teu mundo,
Enquanto choras sozinha um vazio de existência.

Mesmo discreta compreendo a minha chama,
Mas você em ledo engano ignora além da conta;
Olho o céu na busca da esperança que nos redime,
Embora tanto desperdice na desfaçatez que afronta,
Palavra, conteúdo e o meu ser que a tua alma reclama.

Talvez não queiras ou, misteriosamente ignores,
E ao meu merecer não dediques o suficiente apreço;
Às nossas idôneas identificações que avalizam desejos,
Em nosso olhar retraído e desencontrado apenas o medo,
De que o amor encontrara enfim exclusivo e único endereço.


União dos Palmares, 11 de novembro de 2008.

A 'meisinha' - cena da botica do meu pai

Por George W B Cavalcanti


Cada povoado, lugarejo ou cidade por mais simplória que seja tem lá os seus, costumes, tradições, tipos humanos e cenas pitorescas – e também suas ‘esquisitices’ – marcantes e inesquecíveis. Assim é que, no pequeno burgo no qual vivi a infância e pré-adolescência nas décadas imediatamente subseqüentes a meados do século passado, a drogaria do meu pai foi terreno fértil a cenas memoráveis –; meu pai que, para os íntimos, modestamente denominava seu comércio de: “uma pequena botica de vender garapas de curar gente”.

Era uma daquelas tardes de outono, quentes, letárgicas e abafadas por nuvens, pesadas e indecisas, a ameaçarem o típico marasmo das horas que entremeavam o burburinho das manhãs de ‘feira livre’ no entorno. Sensação ampliada pelo mormaço que parecia entorpecer a todos e deixar – junto com o cheiro dos remédios – toda a equipe de funcionários praticamente sonâmbula. E, também pelo fato de que o nosso prédio comercial se situava – mais central impossível – junto à praça da igreja católica matriz com o seu dolente sino; percebíamos marcantemente estes contrastes no cotidiano.

O expediente assim prosseguiria não fora a repentina chegada de um suarento cavaleiro campesino; tipo que, na época, era jocosamente chamado pelos citadinos de “matuto das brenhas”. O qual sem demora apeou-se amarrando o resfolegante cavalo em uma das argolas de ferro afixadas e disponibilizadas para tal junto à borda da calçada que nos dava acesso. E, recompondo-se, chamou para o canto do balcão o ‘cochilante’ atendente – escalado pelo costumeiro rodízio da equipe naqueles dias de pouco movimento – e, num sussurro, discretamente solicitou-lhe um sigiloso produto.

O balconista até então entorpecido pelo mormaço e o peso do feijão no ‘bucho’ – associação que é um poderoso sonífero –, despertou e, rodopiando nos calcanhares voltou-se para o interior do recinto, pasmo. A tal ponto que, o antes loquaz vendedor que conhecia de cor o estoque, pela primeira vez ‘gaguejou’ o nome de um produto. E, com uma patética expressão estampada no rosto emoldurando o sorriso sem graça. A seguir engoliu a seco contendo-se e fez vazar algum som pelo canto da boca –; e, o que se ouviu foi o seguinte: “o homem está pedindo um frasco de SARTA PRÁ RIBA DO BICHO”!

Àquela altura o pessoal todo, tentando segurar o riso a todo custo, acudiu em massa para tentar decifrar o medicamentoso enigma; pois, além de socorrer o colega, buscavam manter o brio profissional – mas, segui-se o inevitável ‘bochicho’ e a crescente irritação do freguês. E nós, mais ao fundo, só víamos a formação de um cerco humano no balcão enquanto um par de mãos agitadas sobressaia sobre as cabeças. E, não demorou muito para ecoar a voz do irredutível solicitante que, aos berros exigia repetidamente; “chamem ‘seu’ Duvá, chamem ‘seu’ Duvá!” –, como em ‘matutês’ pronunciava a (senhor) Edward, o nome de meu já falecido e saudoso pai.

Vendo o experiente ‘boticário’ que a tempestade outonal ameaçava cair-lhe com todos os trovões e raios dentro do seu comércio e sobre seus negócios apressou-se em intervir e, em tom protocolar, argüiu sobre as características do medicamento àquele que em meio aos demais já estava na ponta dos pés e com o dedo em reste. Perguntou-lhe sobre a aparência e indicação do produto. Ao que o tipo não contou conversa e foi logo falando em tom conciliador: “óia seu Duvá mi adiscurpi, mai é uma ‘meisinha' (remédio) da cáxa marela cuma cinta azú nu meio, i, quiá cumade Zefa lá da ‘zona’ diche quí cura inté furunco, sífri e quaiqué reima nu sangui -; duença du múndu, u sinhô cumpriende né...?”.

Serenamente meu pai foi às prateleiras e seus conteúdos que minuciosamente conhecia e voltou trazendo o polêmico e tão procurado produto fitoterápico, em cuja embalagem se lia claramente: ‘SALSAPARRILHA DO laboratório BRISTOL – o depurativo do sangue!’ A surpresa foi geral, exceto para aquele de quem finalmente se escutou o vitorioso e orgulhoso comentário: “é pru isso quêu só goxto de falá logo cum santu grandi!”
Finalmente satisfeito o nosso visitante saiu à calçada, estalando na calça de brim ‘azulão’ a ‘tabica’ de cipó-fogo que mantinha sempre consigo. E, olhando o céu buscando assuntar o tempo, desamarrou a montaria que o trouxera e nela subiu; e, cravando-lhe as esporas troteou ligeiro, sumindo na esquina da ladeira que o levava de volta ao campo.

NR: Salsaparrilha; outros nomes: Smilax médica, Smilax officialis, Smilax syphilitica, Smilax peruviana, Monoecia hexandria; da família das Liláceas, tem ainda outros nomes: sarza, salsaparrilha-das-boticas, salsa-americana. No Brasil há muitas espécies de salsaparrilhas conhecidas pelo nome de japecanga. É uma planta depurativa, diurética e sudorífica. E aplica-se nas enfermidades venéreas, exantemas, gota, reumatismo e sífilis.
Fonte: BALBACHAS, Alfonsas. As Plantas Curam, 7ª ed. São Paulo - SP. Ed. Missionária A Verdade Presente – 1959.


União dos Palmares - AL, 09 de novembro de 2008.

Horizonte Lunar

Por George W B Cavalcanti


I
O ter não é difícil de compreender,
Se o seu conseguir é lícito, legal e cabível;
Contradição explosiva com fogo de artifício.
O ser, no entanto, é superlativo mistério;
Seu estar neste mundo supera todo tino,
De néscios, de sábios e de profetas;
Deste ou de outro destino.

II
Creio seja esse torvelinho destes fascinantes paradoxos,
Que regularmente me colocam diante do espelho divino,
As imagens refletidas, o eu meu e o derredor além alheio;
Perfis distorcidos e inexplicáveis, mercê do fim e seus meios.

III
Então olho tudo de casa, da rua, mas -, melhor ainda, olho da lua;
Mentalmente eu o faço – e é fácil, tente – essa visão diferente,
E, logo em nosso único satélite natural em um instante estarás;
Não sentindo solidão povoada, somente uma solidão sem gente.

IV
Esteja leve – a gravidade é pouca –, sem políticos ou tropa de elite,
E, nem levantarás quaisquer poeiras, na argila fina daquele solo frio;
Vez que só há pedra em abundância – escolha uma – e, então, sente-se,
Relaxe e, calmamente, concentre-se e observe o planeta Terra à distância;
É a esplêndida presença no horizonte lunar, bem à frente –, bela e comovente,

V
Pois bem, faça como faço – ousada-mente –, contemple e, ante ela medite:
Mãe azul, tão generosa sustentando flora e fauna –; eu, você e toda gente que,
Da lunar perspectiva temos um valor virtual porque, nem ao menos somos vistos;
O cotidiano, guerra e paz – presunção fatal pecado –, e monumentais mesquinharias.

VI
Oportuno é o desafio e, no painel dos sentimentos retroceda tempos e cenários;
Encenações tantas no globo distante: coringas, valetes, reis e rainhas – tudo um jogo,
De musas, apaixonados e glórias efêmeras – quando, o mais importante é descartado;
Em Gaia a casa comum e deusa dos gregos; grande ser que nos nutre, sustém e acolhe,
Que, com as entranhas perfuradas e a pele verde arrancada, não nos dará tempo à fuga.

VII
Continue na imaginária poltrona ampliando a visão do drama –, é didática a imagem;
Olhe bem para o nosso planeta, é aparentemente sereno, mas, em plena revolução,
Abriga uma verdade nua: em sua noite é iluminado, mas, não ilumina a noite da lua;
Veja como é bom vê-lo sem nele distinguir rico ou pobre e nem a belos ou a feios,
Tantos, naquela nave, desatentos à sua solidão no espaço e sem saber a que veio.

VIII
Nela somos um só corpo que quer ter duas cabeças –, monstro ser social;
Vaidade das vaidades; egos indigentes e tão carentes desta didática viagem,
Que nos remete ao Mashíach restaurador da harmonia das centelhas da divindade;
Você, a lua, a Terra em íntima afinidade e o valor auferido, em consciência e coragem,
Sem injustiças ou maldades num corpo com uma só cabeça – e, um futuro sem saudade.

IX
Enfim, no horizonte lunar em destaque – do cosmos – o nosso pequeno bocado,
E, quão fantástico será o ser, super homem – D’us Conosco, regenerador do cenário,
Quando se sentir no céu será rotina e, o espelho da Lei refletirá, aqui, a imagem divina;
Não haverá seres mesquinhos; ‘homens-tamanduá’, a catarem na vida terreais picuinhas,
Porque transformados seremos esplendorosos em casa, na rua e vistos até da lua; verdade!
Até porque nenhum sucesso justifica, por qualquer valor que seja o fracasso da humanidade.

X
“PS”:
Agora, volte em segurança,
E sinta-se muito à vontade;
Faça aqui seu comentário:
Sobre enjôo ou vertigem,
Ou, se gostou da viagem;
Mas, se a achou positiva,
Indique esta mensagem.


União dos Palmares - AL, 01 de novembro de 2008.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Noturna

Por George W B Cavalcanti


Quando noite, altas horas,
E no meio da madrugada,
Assombra-me fantasmas;
Mensageiros da solidão.

Eu não sei onde estás,
Só sei que, nem atinas;
Às lágrimas interiores,
Vertidas de um coração.

Saudade contra maldade;
Sôfrega bruxa feiticeira,
De fala mansa e faceira,
Simulou tanta paixão.

Então a lua, a fria lua,
Clareia o meu caminho,
Prateia os meus cabelos,
Mas, não me traz carinho.

Assim é a nossa verdade,
Que a madrugada revela;
Artifícios mil, de fugas,
Quando a noite traz você.


Sofisma e extinta chama,
Onde estás? O que faz?
O nosso leito reclama,
À noturna testemunha.


União dos Palmares - AL, 29 de outubro de 2008.

Asas e Caminhos

Por George W B Cavalcanti


Permita-me que fale de turquesas esvoaçantes,
Gratuitas presenças com sua dança de cor e luz;
Quase indescritíveis porque diáfanas e semi-etéreas,
Em regular recorrência que o tempo no espaço produz.

Falo da cena metafórica e poética do meu caminhar,
E de texturas límpidas e luminosas como o céu de verão;
Que ilumina o cotidiano de pessoas e cenas vazias de carinho,
Enquanto eu sigo sozinho e a me encantar com os pássaros azuis.

Convido-te então a trilhar comigo nessa antiga senda,
E, a seguirmos os pássaros azuis sempre que o quisermos;
Traduzir suas mensagens trazidas em suas asas e seus dons,
E, caminhar juntos à revelia das folhas mortas caídas na trilha.

Vamos assim avançar seguindo em suave compasso outra vez,
E, festejarmos a dois o especial simbólico, dolente e bucólico;
Um alado momento como as emplumadas e canoras presenças,
Quando é para nós toda a sinfonia daqueles belos pássaros azuis.

Saiba que não há motivo de angústia em uma bela tarde de domingo,
Quando afinal esse caminho nos conduz a nos amarmos ardentemente;
Num abraço afagarmos e docemente beijar-nos num mundo de interna luz,
Aconchegados ouvindo ao longe nos brindar os alegóricos pássaros azuis.


União dos Palmares - AL, 28 de outubro de 2008.

Antes que toque a trombeta

Por George W B Cavalcanti


O instinto animal tem lá sua lógica, até porque é – ao nosso juízo – fruto de uma lógica maior. Então, o que tem chamado a atenção ao longo da minha observação é que, em maioria nos encontramos – não obstante outros avanços – em um estágio primário de conhecimento da nossa integralidade enquanto agentes construtores de uma história atrelada à química orgânica que carregamos. Desconhecimento este que é igualmente identificado na conduta – o que é mais estranho –; tanto dentre os principais “manda-chuvas” na economia global o quanto é entre os mais humildes ‘servos da gleba’ que lutam para garantirem para si, ao menos, uma velhice com um mínimo de dignidade.

Ousamos dizer que essa importante parcela da humanidade - pelo forte traço de presunção ainda predominante - permanece desprovida de um mínimo de conhecimento sobre o quanto o nosso comportamento e trajetória existencial são condicionados pela química hormonal que, – qualitativa e quantitativamente – nos escorrem do nosso sistema glandular. E que, ao fluir pela malha venosa, adentrar a massa corpórea e inundar o nosso cérebro imprime ritmos e reflexos; mediante os impulsos elétricos e sinapses neuronais que proporcionam.

Segundo o grande Nelson Rodrigues, “de perto ninguém é normal” E, ele evidentemente se referia ao normal socialmente idealizado e hipocritamente exacerbado –; ao ponto de tantos se considerarem mais normais que os demais. Embora, a rigor e sem ser pejorativo, é sabido que nós humanos organicamente não somos mais que ambulantes usinas de queimar alimentos – e que, todos nós lindos ou não somos igualmente dotadas de sacos de hormônios e, de fezes.

Ora, reflitamos mais um tanto gente: o cosmos é um imenso painel pedagógico e educativo com suas lições imensamente estampadas sobre as nossas cabeças; nós é que somos maus alunos em não prestarmos atenção nos seus conteúdos e inestimáveis ilustrações. ‘Saquem’: todos os corpos celestes são esféricos ou estão em vias de o ser; ou seja, suas formas são determinadas pela ‘lei do retorno’.

Senão vejamos; analisemos a forma esférica e percebamos que: nela, partindo-se de um ponto qualquer da superfície e seguindo-se continuamente sobre a mesma, invariavelmente retorna-se ao ponto de partida; assim, início e fim são relativos e apenas o retorno – qualitativo e quantitativo – é absoluto, garantido e inevitável. Mas, a título e ilustração, suponhamos a este respeito mais um pouco.

Imagine-te gigante sobre a Terra e com os ombros à altura da baixa força gravitacional; então, pegue uma pedra ‘cá em baixo’ e, com teu ‘gigante braço’, lance-a à tua frente na órbita terrestre. Agora feche os olhos e imagine a cena enquanto visualiza a trajetória da pedra –; assustador não é? Sim, porque se entendes um pouco de astrofísica te será impossível manter os olhos fechados.

Abririas os olhos e saltarias de lado porque, ao circundar o globo, o petardo viria pela retaguarda, direto para a tua nuca ou imediações –; grande lição não é? E, creio que em teu perfeito senso jamais desejarias ser o tal gigante.

Espero que tenha tornado mais claro que, na direção na qual seguires ou lançares nela e/ou dela será/virá o retorno. Pois, quem de si e para si se serve e não vive para servir não serve para viver –; o ser para si é o ser para o próximo. Aprendamos e ensinemos assim, enquanto ainda há tempo.


União dos Palmares - AL, 13 de outubro de 2008.

Madura Musa

Por George W B Cavalcanti


Minha especial fêmea deve saber,
Que prezo por demais minha delicadeza;
Meu gesto determinado, elegante e bonito,
A preparar o delírio com homeopática rudeza.

Minha potencial musa tem que querer,
Usufruir o parque brincante na intimidade;
Degustar as iguarias de um banquete inaudito,
Que faz da cama uma mesa farta sem vulgaridade.

Minha essencial querida sabe proceder,
Diligentemente cúmplice quanto à sensualidade;
Gemer ao luar e entre suspiros ver o sol nascer.

Minha providencial amada faz a sexualidade,
Em despudorado recato emoldurar o melhor viver;
Com sua lascívia serena e bela na maturidade.


União dos Palmares - AL, 11 de outubro de 2008.

Quando o amor se constroi - o bom cuidar do bem

Por George W B Cavalcanti


Temos fortes motivos para acreditar que, se indagarmos – ‘nos quatro cantos do mundo’ – sobre a mais importante evidência da conduta amorosa, quase certamente sairá da ‘ponta da língua’ a colocação simplista e fácil do senso comum; na forma da antiga e ora um tanto desprestigiada frase: ‘quem ama cuida’. À qual eu adicionaria o termo: também, antes da última palavra desta curta assertiva.

Porque, também, se cuida por interesses menores, mesquinhos ou mesmo por obrigação: mas, no caso do verdadeiro amor acontece diferente. O precede um processo, uma seqüencia que demanda – individual ou coletivamente – fatores tais como: consciência, atenção, foco, eleição do enfoque amoroso ao nível máximo: longanimidade, magnanimidade e generosidade. Até se chegar ao ápice da consubstanciação amorosa no altruísmo e auto-sacrifício pelo outro –; possível apenas a uns poucos, evidentemente.

Ousemos a este respeito mais um pouco e, exercitemos um singelo filosofar na prospecção mais profunda do verdadeiro amor. Busquemos dissecar mentalmente esse duto, essa ‘artéria’ que, conduz o seu fluxo na direção da vida e de toda história –; não demora e logo identificaremos, na dinâmica, um arranjo hierárquico, harmônico e estruturante. Composição que constitui a mais extraordinária, fascinante e poderosa energia em todo o universo: o amor em seu estado não contaminado e puro – ou seja, verdadeiro. E, esta estrutura de raciocínio, qual genética, nos conduz a conclusões axiomáticas; verdades incômodas para muitos – no entanto irrefutáveis, como se segue.

Verdadeiramente amamos a quem admiramos e só admiramos a quem conhecemos. Assim, quem não ama é porque não admira e não admira porque não compreende; e, não compreende porque não conhece verdadeiramente.

Enfim, esta é uma verdade do amor específico, individual e interpessoal, também. O qual pode ser influenciado em maior ou menor grau pelo amor genérico –, em sendo este tornado específico e verdadeiro, ou não. E, na medida do conhecimento sobre outrem adquirido.


União dos Palmares - AL, 09 de outubro de 2008.

Prólogo de Um Amor Febril

Por George W B Cavalcanti


Concentrei-me na figura daquela mulher,
E observando-a mais detidamente percebo:
Atualmente está com os cabelos brilhantes,
Pele perolada, sedosa e convidativa ao toque;
A demandar fantasias de carícias convenientes.

Meu olhar corre como água íntima e libertina,
Intimando a depor o meu desejo que voa livre,
E, ávido pelo seu mistério de parecer-se menina.
Pobre retina súdita da beleza que se me asperge;
Emanação visual de hormônios e, ela nem imagina.

Involuntária taça de volúpia e inspiração conivente,
Portentosa mesmo distante porque é puro fascínio,
Que escala cada poro e por todo corpo está presente.
A mim não resta senão o pensamento em sofreguidão,
E o desejo de beijar, cada centímetro, milimetricamente.


União dos Palmares - AL, 05 de outubro de 20008.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Usina, navio e cais

Por George W B Cavalcanti


Estas palavras não são porque eu seja cabo eleitoral ou político – não sou candidato a nenhum cargo eletivo – mas, as coloco a bem da verdade histórica e sociológica e, por um direito de cidadania e dever de ofício pedagógico. Isto posto, passemos, pois, ao que por oportuno e necessário deve ser abordadado, esclarecido e lembrado - como veremos a seguir.

Os significados das três palavras do título acima são respectivamente: Usina, s.f. Grade estabelecimento de fabricação industrial; fábrica em que o fogo é principal agente; usina de açúcar. (Do fr. usine.). Navio, s.f. Embarcação de grande porte, destinada a navegar no mar ou em grandes rios; ‘ficar a ver navios’: não obter o esperado, ficar logrado. (Do lat. navigiu.). Cais, s.f. Lugar, nos portos de mar ou de rio, onde atracam os navios e se faz a embarque ou desembarque de passageiros e mercadorias. (Do fr. quai.).

A ligação da primeira – usina – com as subseqüentes – navio e cais – dá-se, tanto no sentido concreto quanto no abstrato, senão vejamos: quando se observa a uma determinada distância o tanger do vento nos extensos canaviais, o efeito apresentado assemelha-se às ondas de um verdadeiro mar. Já a caldeira, o apito e as chaminés fazem parte dos navios a vapor que, durante muito tempo, transportaram a produção das usinas. E, cais; a estrutura de escoamento na exportação e, ancoradouro seguro das grandes fortunas, de alguns, produzida por este conjunto. Assim, essa arcaica atividade ao longo do tempo, para a massa trabalhadora, economicamente pouco ou nenhum beneficio tem aditado; e, para as populações das cidades no entorno, figurativamente tem representado isto: embarcarem em algo que é a um só tempo navio e cais. Ou seja, tentar navegar em algo que vai do nada para lugar nenhum. Portanto, aqui, quaisquer semelhanças não serão meras coincidências.

Como é do conhecimento geral nos meios mais desenvolvidos, a usina de açúcar é considerada a indústria mais atrasada que existe; uma vez que, desde os seus primórdios e nos dias atuais não agregam valor ao que produzem. Porque para seus donos e associados não é interessante agregar à usina alguma indústria de insumos ou de derivados; pois muito lhes abasta o que desde sempre e apenas produzem: açúcar e álcool – e, nada mais do que isto. Ao olhar mais atento, não são empreendedores no sentido de uma – mínima que seja – diversificação econômica que gere uma dinâmica de emprego e renda. Conforme pensam, lhes seria contrário promover desenvolvimento humano para as populações das terras e localidades das quais se beneficiam – e, compartilhar democraticamente o poder político para eles é impensável. Assim, nunca se ouviu falar em usina que ampliasse seu parque industrial – pelo álcool que produzem – com uma indústria de bebidas ou que – pelo açúcar que fabricam – houvesse instalado próximo uma fábrica de doces, por exemplo.

Estreitamente pragmática e acomodada – para dizer um mínimo – essa mentalidade feudal remanescente tem o típico pensamento travado no passado e uma visão caolha do futuro; que, para eles, consiste sempre no seguinte raciocínio: ocupar a maior extensão de terras possível e dispor da maior quantidade de mão-de-obra barata imaginável. Ou seja, como resultado são contrários a tudo que diga respeito à democratização e socialização da geração de emprego e renda – e, a baixa escolarização, a falta de cidadania e, um eleitorado eternamente carente 'indigente' é tipo de “praia” na qual nadam 'de braçadas'.

No pós-guerra da última grande guerra, para manter uma base militar estratégica nas Filipinas o governo norte-americano apoiou os feudos açucarareiros 'nada açucarados’ antes lá implantados pelos espanhóis e, a manutenção do controle econômico e político nas mãos dos usineiros de lá e seus aliados. Resultado: a terra das ‘Imelda Marcos’ continua – em tudo – o país mais atrasado em toda Ásia, para infortúnio do povo filipino. Ninguém merece, quer, admite ou permite a perpetuação de tal condição; é questão de tempo – este é um estágio fadado a superação no rumo do progresso e do desenvolvimento e, neste torrão, certamente não será diferente.

Para melhorar a qualidade de tudo o eleitor tem que melhorar a qualidade do seu voto – e, eleições livres é a festa maior da democracia; portanto, a hora de melhorar tudo é todo dia - o dia todo - e, agora e sempre.


Fontes da pesquisa: Dicionário Brasileiro Globo / Francisco Fernandes, et al. – 50 ed. – São Paulo : Globo, 1988. ; Toda A História / José Jobson de A. Arruda e Neslon Piletti 04 ed. – São Paulo : Editora Ática, 1996. ; Notas Sobre a História de Alagoas / Isabel Loureiro de Albuquerque – 01 ed. – Maceió : SERGASA, 1989.

Papo de Sapo

Por George W B Cavalcanti

(para crianças de 8 a 80 anos)


Eu vi a rã rebolando a rabeira redonda,
Comendo rabanete e rabanada recente;
Era um ritual ritmado romântico e radiante,
Que a rechonchuda radical fazia ouvindo a rádio.

Nem ligava se o ruivo sapo rabugento ralhava,
Raivoso, querendo rachá-la com “rabo-de-arraia”;
Não era racismo, recalque e nem recíproca rejeição,
Mas sim a radiografia recente de um rústico romance.

No caminho da roça realmente era ruidosa a romaria,
De sapos, rãs, caçotes e até pererecas, rasgados em risos;
Em pedras, em galhos e em folhas, ali eram só festa e alegria.

Chegaram todos, rodearam a reluzente rã e o rubro sapo,
Que, apaixonado, esquecera a rabugem e também rebolava;
E rouco era o seu roncar, de tanto ressoar o tambor do seu papo.


União dos Palmares - AL, 25 de setembro de 2008.

O vírus do Ipiranga e versinhos antígenos

Por George W B Cavalcanti


Quando eu era criança e cursava o antigo ‘curso primário’ no ‘Grupo Escolar Rocha Cavalcante’, tinha um menino na nossa turma que se sentava na banca à minha frente. Ele era bom na matemática e por isto se sentia o tal. Mas que, na hora de entoarmos o hino nacional – embora a professora o corrigisse sempre – ele teimava em errar e iniciava sempre assim: -“O vírus do Ipiranga às margens plácidas...”

Então eu, sendo criado em chão de drogaria como era, estranhava aquilo e pensava lá com ‘os meus botões’: será que esses personagens garbosos – da famosa pintura do Pedro Américo –, do nosso livro de história, beberam da água do riacho e foram contaminados por esse tal ‘vírus do Ipiranga’?...

Tempos depois, em meus primórdios de aspirante a poeta – diante dos desmandos e contumácias na cena nacional – e provocado por aquela versão, digamos,‘metafórico-escatológica’ do verso inicial do símbolo pátrio, foi que escrevi estas ‘estrofes-antígeno’ como se segue.

Ao indivíduo alienado,
Deprimido contumaz,
E pessimista inveterado.

Ao sovina perspicaz,
Bruto descontrolado,
E presunçoso mordaz.

Ao cego do olho clínico,
Loquaz inconveniente,
Que é obsessivo-cínico.

Ao insolente mal-amado,
Alma apenada e insana,
E, malfeitor dissimulado.

Ao sexualmente 'pirado',
Predador geral assumido,
E de espírito deteriorado.

Ao mentiroso-mutante,
Destruidor inveterado,
E truculento ignorante.

Ao que não sabe fazer,
Serra esteio e rói corda,
E vê no mal o seu lazer.

À alma sebosa insolente,
Boca-rota pela bobagem,
E abominável indecente.

A quem, por azar do acaso,
Transitar por estas plagas,
Com má intenção e atraso.

Vai ouvir gemer a ema,
No efeito bem provocado,
Pelos versos deste poema.

Com este preparo injetado,
Leva em si e ajuda o outro,
Prá também ficar sarado.

Vai ao grotão e tira a canga,
Colocada em tantas costas,
Por esse vírus do Ipiranga.


Os versinhos acima foram produzidos num lampejo de inspiração cívica e de posicionamento de cidadania no fulgor da minha juventude; é bem verdade. São, no entanto, uma vívida expressão do meu norteador precoce repúdio às condutas sem ética e a essas nódoas morais que, desde os primórdios da nacionalidade teimam em manchar a imagem desta nação. Até porque, desde então essas abomináveis práticas recrudescem pela via político-partidária nos períodos eleitorais; como um antigo cancro moral entranhado no organismo social deste país. E que, - ‘prá ontem’ – deve ser radicalmente extirpado por cada um de nós e por todos.

Em tempos de antanho – e ainda residualmente – no nordeste e, na atualidade, nas comunidades faveladas; sempre pelo abjetos recursos da intimidação, do uso da força e da chantagem coletiva os useiros e vezeiros do ‘voto de cabresto’ mostram as suas garras. Contudo, parece-nos que o nosso cidadão, mesmo tardiamente, está tomando consciência de que a má distribuição de renda, a falta de consciência de sustentabilidade de alguns setores privados e a omissão dos poderes públicos, constitui-se no perverso insumo que nutre os já famigerados ‘currais eleitorais’; mas que cabe a ele - cidadão - enquanto eleitor, a inalienável tarefa de corrigir essa realidade com o seu voto consciente.

Quem sabe, até apóiem uma nova PEC (Projeto de Emenda Constitucional) de Iniciativa Popular no sentido de que sejam colocadas as palavras: ética e dignidade, antes das ora constantes da bandeira nacional e, como expressão maior da alma brasileira.


União dos Palmares - AL, 21 de setembro de 2008.

Unificar

Por George W B Cavalcanti


Gente, que vos quero povo,
Com, H de humano; saíste da lenda para a história;
Ainda que, o antigo, consagrado, vos pareça novo.
Quando, gente, pensa não ser povo, falta-lhes memória.

Povo que vos quero gente,
Com, U de união; única atitude que vos conduz à glória;
Mas, por que rejeitas viver a paz e o bem, plenamente?
Porque, a si não conhece, quem vê no povo a escória.

Povo que vos quero santo,
Com, M de melhor, bênção que vos seja adjutória;
Porque assim tereis a vida e a vitória que desejais tanto.

Povo-gente que vos quero santo e sem engano,
Com, A de amor, N de nossa e, O de oração jaculatória;
Porque na verdade e em certo sentido só o santo é humano.


União dos Palmares - AL, 20 de setembro de 2008.

Exorcismando a maloca

Por George W B Cavalcanti


Porque as instituições republicanas não são malocas de homiziar contraventores; é que, estas linhas são atinentes à má distribuição de renda e injustiças sociais da realidade brasileira. Realidade essa de antigas dívidas sociais e fartamente traduzida – e, bota tradução nisso – em dados estatísticos amplamente divulgados pelas mídias nacionais e internacionais.

Indicadores retirados em recentes pesquisas realizadas por abalizadas instituições e em duas diferentes vertentes do nosso cotidiano e que, assim a primeira vista, parecem não estar lá muito interligadas. Mas que, na verdade são siamesas condicionadas, regidas e configuradas pela inexorável lei de causa e efeito que, perpetuamente inferniza aos corações e mentes de irresponsáveis e negligentes ‘de plantão’.

A primeira delas, em números absolutos, dá-nos conta de que até o ano 2.010 (dois mil e dez) teremos mais 2.000.000 (dois milhões) de compatriotas favelados e aditados aos mais de 50.000.000 (cinqüenta milhões) nesta condição – com todo o verde e amarelo ‘futebol clube’ a que tem direito –, existentes em nosso país até a presente data. E, vem do prestigioso esporte bretão que aqui virou arte e paixão, a segunda revelação, agora em números percentuais e, nos apontando que, 67 % (sessenta e sete por cento) da nossa população tem mais interesse por futebol do que pela vida político-partidária e suas conseqüências – diretas e indiretas –, na qualidade de suas vidas e das dos seus colegas de agremiação esportiva; embora muitos creiam que elas atingirão somente os adversários.

Mas, como é das decisões políticas que resultam a má educação, o preço do aluguel, do transporte e do feijão, passando pelo inacessível plano de saúde privado e desembocando no aumento da prostituição, da criminalidade, da impunidade e da ‘neura’ geral de insegurança. É que, a ‘galera’ tem que urgentemente entender que não será somente por agitarem pano de bandeira futebolística que lhes será oportunizado um emprego e, nem o escudo de seus times de coração no lado esquerdo da camisa lhes protegeria das ‘balas perdidas’.

Está mais do que na hora de tomarem outra atitude. Porque já estamos ‘carecas de saber’ que a revelação reiterada de tais condições lastimáveis, no entanto, parece nutrir a sádica e contumaz alegria dos nossos tradicionais coronéis criadores de gado humano e dos seus ‘vaqueiros sociais’ que, em seu primitivismo mental, só sabem fazer política tangendo povo como se fosse manada de gado humano.

Lastimável é constatar que enquanto isso, lá das favelas e dos alagados continuam a sair caravanas de alienados torcedores que descarregam suas frustrações a guerrearem entre si; e, que vão aos estádios espremidos em um precário coletivo da vida e a cantarem a antiga marchinha carnavalesca que os consola otimistamente: ‘se a canoa não virar ê,ê,ê,á, eu chego lá...; pode até chegar vivo mas, garanto que com tanta marola, aqui e alhures, o enjôo só aumenta.

Contudo, para ensejar-lhes o adequado contraponto, garanto-lhes que, eu e provavelmente a maioria dos patrícios gostaríamos que fosse enfim realizada a devida e alentadora reforma política. Porque ao imaginarmos tão glorioso momento para a cidadania e para a honra do nosso sofrido povo indispensável é, visualizamos dede já determinada corja de maus parlamentares voltando para casa - seus velhos e surrados ‘currais eleitorais’ - não em carro oficial ou particular blindado e sim em ‘camburão’.

Quando, então, um bom 'samba da garoa' lhes vestiria como uma luva com este seu verso saudosista: ‘saudosa maloca, maloca querida, din din donde nóis passemo'...

O contracanto não poderia ser outro que não: ‘Vade retro’ corrupção, maloca prá ti, aqui não!


União dos Palmares - AL, 18 de setembro de 2008.

Janelas da Alma

Por George W B Cavalcanti


Existem pessoas em cujo olhar há luminescência,
Mesmo não provindo de erudição, necessariamente;
Trazem na face duas gemas de rutilante persistência,
A antecipar-lhes o discurso de conteúdo transcendente.

Outras há com o tênue semblante sem consistência,
Com uma fugaz expressão que se esvai em segundos;
Por não conterem em si os rastros das suas existências,
Não preservam resíduos nem de vidas e nem de mundos.

Decerto existe um insondável mistério nessa alternância,
Uma vez que, em umas faz-se precoce a luz da maturidade,
Noutras a penumbra perene de quem estacionou na infância.

Nestas inoperantes lumes e naquelas, faróis que nos comprazem,
Umas nos fitam e até esboçam intentos, mas nada nos transmitem,
Outras emanam claridade e o com o olhar, num lampejo, tudo dizem.


União dos Palmares - AL, 17 de setembro de 2008.

O sucesso safenado

Por George W B Cavalcanti


Começo este lembrando que em algum momento da minha vida defini o ‘quem sou eu’ – meu modo de ser e agir – como um leitor de textos, de gente e de mundo – mas, acrescento, que não somente lê como interpreta o que lê e que, o faz proativamente e transformadoramente para melhor –, lógico. Não é demais ressaltar que quem é capaz de ler mas, que não é capaz de interpretar corretamente o que lê, é classificado pela sociologia contemporânea como analfabeto funcional; isto porque embora sabendo ler e escrever funciona na realidade como se analfabeto fosse. Evidentemente, essa é uma condição perigosa para o desenvolvimento do convívio social e para o progresso de qualquer povo; e, contudo, aplica-se ao estágio cultural predominante no contexto local - mas que, particularmente, busco obstinadamente contribuir para debelar por uma questão de fé, crença e de nível de escolarização.

Ao longo da minha vida dedico cada vez mais tempo a esta leitura, digamos, ampla, geral e irrestrita. E, persistir nesta opção tem me custado um preço que não é fácil; alias, diga-se de passagem, nada do que é importante é fácil –, no mundo das coisas importantes fácil é uma palavra que não existe. Mesmo assim estimo as minhas abstrações, formulo modestas proposições, defendo princípios e afirmo os meus pontos de vista; mesmo que os mesmos, ainda, não tenham lá muita audiência. Não me importo, sou assumidamente como a tal colibri da fábula: - a ‘gotinha que carrego em meu bico significa que estou fazendo a parte que me cabe no combate ao incêndio que destrói a floresta’.

Quando observamos e refletirmos sobre a aceleração dedicada pelo homem cada vez mais às suas mais diversas atividades, encontramos dois fatores inerentes: uma obstinada ambição e um pragmatismo irresponsável e inconseqüente; sucesso tornou-se sinônimo de aceleração vertiginosa –, jovens há que se consomem tomando, literalmente, aceleração em comprimidos: o “êxtase”. Já que, no mundo dos normais e seus negócios, a aceleração é imposta tanto no quantitativo quanto nos qualitativo como condição - “sine qua non” - sem a qual não há garantia de sucesso; palavra mágica que abre as portas das benesses materiais e – mesmo relativizando o conceito de felicidade – é crescentemente idolatrada ao ponto de tornar-se o único deus adorado por importante parcela da população global -, danosa e tragicamente importante, assim percebo.

Senão vejamos: a exacerbação da concorrência e da competição chega ao ponto de sacrificar a maioria dos princípios éticos – para não falarmos do divino e religioso – e tem, não obstante os avanços da ciência da medicina, levado ao aumento do número de moléstias e precipitado os indivíduos num abismo de insegurança, medo, ansiedade e estresse; palavra esta cada dia mais em voga e invariavelmente assentada como letreiro no muro dos horizontes da humanidade. Até porque se credita ou debita a esse tal sucesso e seu progresso a façanha de nos entulhar de chaminés sem filtros a emitirem na atmosfera de 7,3 bilhões de toneladas/ano de CO2/gás carbônico – e no mesmo ritmo –, enxofre, chumbo e outros metais pesados altamente danosos à biodiversidade e de dificílima descontaminação -, os dados pertinentes são definitivamente aterrorizantes. Ah! Não esqueçamos as usinas nucleares e seu lixo atômico sem solução à vista, a contaminação do solo, das águas e do ar; a chuva ácida, o aumento da temperatura e da acidez dos mares, o degelo dos glaciares e geleiras, o aumento do efeito estufa e da morte por fome doenças e inanição de milhões dos nossos irmãos da África –, tudo isto ocorrendo neste exato momento.

Novamente quanto a mim, como resultado de uma escolha de atitude – ou seria inato? – de declinar da inveja, da cobiça, da ganância e seus decorrentes níveis imediatistas e aéticos de conduta pessoal, estou longe de ser considerado um exemplo do sucesso pragmático –, embora, eventualmente, aja pragmaticamente quando se trata de decisões urgentes e vitais. E, reconheço que, pelo menos até agora, tenho sido quase um completo fiasco quando o assunto é o poder e acumulação de fama, dinheiro, bens materiais, fortunas e afins. E, bem sei o quanto, a maioria das pessoas quase entra em delírio ao dizerem-se amigas de astros e estrelas da comunidade fechada dos ditos vencedores – os 1% da população que detém 90% do dinheiro do planeta – e bem sucedidos, com seus ostensivos evidentes sinais de riqueza; aceitos e louvados mesmo quando o são pela via do ilegal e/ou do ilícito – e, pelo que sinceramente não os invejo.

Concluindo acrescento que, desde há muito se incentiva e se continua a aplaudir a essa alardeada competitividade no mercado de trabalho - que é o embate cada vez mais feroz entre as organizações e empresas concorrentes – a seguir em espiral enquanto, na mesma proporção e velocidade, a harmonia e o equilíbrio do ser sem garantias do ter entram em parafuso. Vide a extremada pressão das diretorias das grandes corporações sobre seus jovens executivos de mais alto nível; chegando ao ponto de provocar-lhes doenças psicossomáticas, síndromes e a antecipação de males da idade avançada. Eles, embora eventualmente dispondo de departamento médico interno específico nas empresas, em muitos casos são mandados para casa – como peça no limite da fadiga – a carregar no peito duas pontes de safena e uma grana que não dá para custear-lhes os remédios de uso contínuo–, "tô fora"; 'O Senhor é meu pastor e nada me faltará' – Sl 23.1.


União dos Palmares - AL, 16 de setembro de 2008.

Cidadania Desvairada

Por George W B Cavalcanti


A insensibilidade e estígma forjam o anti-herói anônimo,
O iletrado que credita o seu sofrer ao impiedoso destino,
O excluído alienado desconhece que se tornou sinônimo;
Mártir, algoz e resto de um sonho que secou ao sol a pino.

Desesperado ele deitou semente e no campo pediu bênção,
Ao político boçal e à imagem empoeirada do oratório da sala,
Tornou-se esperança migrante rezando ao padim Ciço Romão;
Cidadania em farrapos e a história em trapos no fundo da mala.

Na capital devorado viu no concreto e cimento esvair-se fé e santo;
Choram os filhos e o desengano gera amargo fruto de exclusão social,
Um bandido clientelista e protagonista diário do pasmo urbano espanto.

Sofrimento e clamor vivo de uma gente perdida e sem noção da gravidade;
Sobrados e mocambos, espigões e palafitas tingidas no vermelho da lágrima,
Da vítima e também do algoz de um sistema que os devora em sua ferocidade.


União dos Palmares - AL, 10 de setembro de 2008.

Os Palmares vivem!

Por George W B Cavalcanti


Neste nosso discreto e gratificante espaço virtual vimos derramando regularmente um tanto da nossa essência em conteúdos reflexivos, propositivos, emocionais e, até, afetivos; uns simplesmente casuais e outros até consubstanciais; e, por tudo, sou sincera e profundamente agradecido.

Mas, nesta ocasião especialmente comemorativa, sugiro que o título do nosso comentário seja mentalmente precedido de célebre bordão atribuído a um consagrado personagem da nossa história, cuja palavra de ordem era: “Prá frente Sucupira!” Inconfundível por seu nacionalismo foi e, ainda é, considerado por alguns desatentos apenas um excêntrico ufanista delirante. Acontece que em geral o seu estilo é recorrentemente adotado na maioria de nossos palanques eleitoreiros; então ele e seu 'bordão' continuam emblemáticos -; digo, eleitorais.

A propósito, certa manhã cedinho eu estava – como costumo fazer – escutando notícias no meu rádio de cabeceira que tem o sintonizador ‘cravado’ em determinada estação noticiosa quando, sob a batuta do ‘maestro’ locutor-âncora, entra no ar uma hilariante bandinha. Era uma criativa produção e edição de trechos de dobrados e marchinhas unindo conhecidas e célebres frases de efeito de patéticos políticos desse nosso contraditório pais -; uma deliciosa sátira musicada de bom tom e absolutamente histriônica.

Então me ocorreu – como se diz hoje, ‘caiu-me a ficha’ – de que, a literatura que produzo em prosa ou em verso, tem lá seus genes desse nosso bem humorado viés editorial radiofônico. Também, pudera! No meu caso, ele é o fruto maturado pelo calor das minhas continuadas reflexões críticas sobre o entorno da nossa realidade; folclórica, poética e ao mesmo tempo triste e, até, patética.

Assim, entendo minha produção intelectual em boa medida como um efeito colateral do fato de residir em uma pequena localidade e pretensa cidade pólo regional – no entanto ainda classificável pelo jargão sociológico como um dos ‘grotões do Brasil profundo’. Designação esta, genérica e apropriadamente elaborada pelas Ciências Sociais para comunidades encravadas nos interiores e desgarradas do trem do progresso desse nosso país.

Cidades estas nas quais se vive continuadamente a fermentar uma consciência globalizada de liberalidades democráticas, de direitos humanos e civis e de educação formal. Onde, justa e licitamente cresce a sede por conhecimentos, modernizações, capacitação para o mercado de trabalho e, por diversificação da economia local e geração efetiva de emprego e renda. Ou seja, pela equalização participativa com o ritmo geral do progresso nacional – leia-se, desenvolvimento e ganhos de qualidade de vida do povo brasileiro.

Neste sentido, para o povo herdeiro de Zumbí dos Palmares - os palmarinos de União dos Palmares das Alagoas ainda há muito por conquistar. Contudo, embora padecendo o ataque feroz de beneficiários do feudalismo caboclo coronelista – conhecida excrescência da prática política - e, do retrocesso administrativo público, vale salientar que: em nós a sede de modernidade do tempo não passa. E, essa nossa sede de cidadania persiste porque é inerente ao organismo social como a água é necessária ou corpo humano. Sede essa que só é saciada pelo exercício da alternância política no poder; e, alternância esta que é em si mesma a essência e seiva e do progresso e desenvolvimento -; mediante o exercício das conquistas democráticas.

Na comemoração da independência renovamos o nosso compromisso com a nossa gente pelo avanço e aperfeiçoamento da justiça social neste histórico torrão, tão subestimado e relegado, ainda -, especialmente face o seu singular e inalienável patrimônio histórico-cultural. Porque aqui nasceu e floresceu a consagrada proto-república quilombola que serviu de modelo para a Revolução Francesa do século XVII - marcadamente em 14 de julho de 1789 -, quando caiu a Bastilha e eclodiu nas ruas o grito: ‘Liberté, egalité, fraternité!’ – ‘Liberdade, igualdade, fraternidade!’

Passam os homens mas, a sede de cidadania do tempo não passa, repito. E, por oportuno, vale recitar ainda e sempre a pergunta poética e musicada do também nordestino Caetano Veloso: ‘Até quando iremos precisar de ridículos tiranos?’... Acorda gente! Aproveitemos, eficiente e eficazmente, todas as eleições e joguemos para longe a canga do renitente feudalismo nordestino disfarçado de clientelismo assistencialista-populista –; o qual é na verdade é radicalmente excludente e cruel.

Aproveitemos a chance e enchamos o coração de coragem e os pulmões com o ar da liberdade que desce perenemente da Serra da Barriga; para que os ventos benfazejos da paz e do efetivo progresso tragam refrigério e bonança ao Vale do Mundaú.
Concluo este parafraseando ao Policarpo Quaresma, conclamando: Prá frente Zumbí! E, que os teus Palmares sejam a cada dia mais vitoriosos em nossa União.


União dos Palmares - AL, 07 de setembro de 2008.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Uma Penca de Versos

Por George W B Cavalcanti


Beleza Rutilante


Grato, holográfica e iluminada mulher,
Rutilante estrela dessa teia e galáxia virtual;
Nasceste para brilhar e transmitir luz, calor e vida.
Singular claridade a permutar com amor os frutos da luz,
Grandeza que remetes aos que orbitam esse teu intenso brilho;
Acendes aura em cores e sou singela candeia a te seguir no infinito.


Coração de Pai

Aquieta-te coração meu,
Ante o rugir da procela.

Quando bererem fortes as ondas,
Presta a atenção nas espuma;
Que, adiante e suavemente,
Desliza na areia...

Só assim não perderás,
Nem por um minuto sequer,
A noção da beleza desse mar.


Amiga Virtual

És translúcido orvalho sobre flor,
Gotícula aspergida, discreta e reticente...
Reluzes e escorres para cair da pétala ao chão.
Como se fora luz liquefeita sober mim se derrama,
Faz nutrir boa semente e germinar minha gratidão.


Canavieiros

Chaminés imponentes,
Verticais no horizonte,
Verdes 'mares canaviais':
Usinas; navio e cais...

Mas, pelo cansaço vencidos,
Muitos 'marinheiros' tombaram;
Bravos que lutaram esquecidos,
E, que as ondas desse 'mar' levaram.


Desamor

Desilusões sofridas repetidamente,
Sentimento forte vai desvanecendo;
Laço colorido que se desfazendo,
Rouba esperança perigosamente.


Oásis Ambulante

Felicidade viva e visita benfazeja,
Visão de miragem e oásis de emoção;
Nomade cenário que ao meu espaço aditas,
Agua cristalina, flores, frutos e maior devoção.
Misterioso evento que me traz especial renovo,
Num estímulo que me faz desejar sem concessão,
(vendo que os labios reservas e ofereces a fronte),
Declinar esse beijo pudico que desdenha da paixão,
E buscar beija-te toda: o corpo, a alma e o coração.


Olhai O Infinito

Vês no brilho de uma rutilante estrela,
Fótons que ora captas em tuas retinas?
Talvez seja o sofisma de uma supernova,
O passado presente naquela luz pequenina.
Um esplendor transitório a viajar pelo cosmos;
Já foi um desejo, intento, esperança, devir enfim,
O futuro do pretérito expresso numa estrela-menina.


União dos Palmares - AL, 06 de setembro de 2008.

Batuque de Letras

Por George W B Cavalcanti


Ao bem da paz a paz do bem! Assim vaticina o pensador vetusto,
Face a face com um povo em guerra, essa massa dessa paz sedenta;
Gente cega, surda a salmos e provérbios e que, tropeça e cai, sempre,
Em sua noite de escuridão cônica, nas próprias valas que constrói de dia.

E que, a cantarem versos imorais em farras e pelejas furiosamente fúteis,
Não sabe o que faz e nem quem faz o mal que se arremete contra suas vidas,
Choradas e gemidas enquanto gargarejam o suor da loira gelada na primeira fila.
E, ante a genética generosa a cobiça e olhar certeiro nos belos e farto globos glúteos,
É cultura vã de tolo sorriso postiço que desfila ao som de batuques e inúteis fantasias.

Enquanto isso o poeta nada misógeno em meio ao seu povo sofre em exílio,
Não é convidado nem para acompanhar enterro, alijado está por ter senso crítico,
Isolado foi como se leproso fosse, porque no grotão desagrada ao feudal coronelismo.
Emparedado foi socio-economicamente por falsos amigos e por pseudos-doutos néscios,
Que abandonam o educador e deram-se ao intercurso de bezerro de ouro com vaca profana.

Ora o que resta ao poeta é somente a janela virtual por onde faz escapar o seu apelo lancinante,
É refugiado social em busca de resgate e asilo à cidadania, a clamar em textos do rincão distante.
Mas, quem teria o tão necessário especial apreço pelas tantas lágrimas que verte em cada verso;
Versos e rimas são seus o batuque no tambor de letrinhas, que traduz o tempo além do horizonte.


União dos Palmares - AL, 06 de setembro de 2008.

A (r)evolução pelo voto

Por George W B Cavalcanti


Eleitor indeciso até na hora de votar sempre existiu e vai continuar existindo: isto faz parte da liberdade democrática e, como em tudo na vida, tem o seu lado bom e outro ruim. Porque, se por um ponto de vista este tipo de eleitor parece mostrar senso de responsabilidade e de seriedade no trato das eleições, por outro pode ser um sinal de grave despreparo e imaturidade para a vivência cívica.

Evidentemente que os retardatários na escolha dos candidatos e os vacilantes na frente da urna de votação merecem mais atenção e cuidados especiais; tanto pelos candidatos aos cargos eletivos quanto pelas instituições e poderes constituídos. Mas, vale ressaltar que nesse processo educativo da cidadania, tem cota maior de responsabilidade e de engajamento, cada um e todos os melhores preparados pela educação – principalmente a formal – e pela experiência prática da vida.

Certamente que, a busca por fazer parte do grupo das nações mais dinâmicas e desenvolvidas está no íntimo de cada um de nós brasileiros e, mesmo as nossas crianças já tem claro o nosso potencial e querem transformar este país grande num um grande país. Parece estar ficando claro para nós o entendimento de que, evolui-se neste sentido ao se ser diligente e pelo senso de solidariedade cívica e patriótica – e, com júbilo vemos isto firmar-se em campanha eleitoral em nosso país.

Vez que, embora lentamente como tudo no processo das mudanças culturais, pouco a pouco – demorou, hem! – as putrefatas mazelas e patifarias das velhas e carcomidas práticas eleitoreiras vão paulatinamente para a lata do lixo da nossa história. ‘Reciclagem’ delas? Sem chance! O nosso velho e bom ‘gigante pela própria natureza’ parece que finalmente está acordando; até porque a nossa gente está longe de ser constituída por alguma etnia descerebrada ou por alguma subespécie humana -, imagem esta que só se configura na mente deformada de ridículos absolutistas de grotões ou de favelas -; para os quais definitivamente não há mais futuro.

Escolhamos, pois, os nossos candidatos a titulares dos poderes legislativo e executivo sempre conforme suas competências e merecimentos e, sempre os melhores; não por outro critério que não seja a idoneidade, bom caráter e comprovada capacidade para o cargo. Assim, votemos sem medo e com responsabilidade, para o bem do aperfeiçoamento da democracia – ora exercida eleitoralmente nos âmbitos municipal e estadual. Ou seja, na consolidação de importantes conquistas coletivas pela prática do voto universal, secreto, limpo e bom; que é o instrumento maior na conquista da cidadania e soberania nacionais.


União dos Palmares - AL, 31 de agosto de 2008.

O Gosto da Lágrima

Por George W B Cavalcanti


Quando, em algum momento, em tí,
A emoção incontida verter sua lágrima;
Mesmo única, solitária, discreta, furtiva,
Mas assim, pesada, escorendo persistente.

Daixa-a livre, até mesmo derramar na tua boca,
O seu licor de proteínas, gorduras e sais minerais;
Ela é dor ou alegria em forma translúcida e concisa,
Resgatando memória e por alguma razão requerida.

Seja de prazer, tristeza, júbilo ou de desgosto,
Não detenhas em sua trilha sinuosa pelo rosto;
Marcado com o rastro íntimo, úmido e brilhante.

É tão similar ao líquido do nosso berço amniótico,
Que nos faz sentir o gosto da nossa própria essência,
O sabor do saber cuidar do outro que traz à luz a vida.


União dos Palmares - AL, 29 de agosto de 2008.

Nós e o nosso planeta

Por George W B Cavalcanti


Diante das cada vez mais enfáticas e contundentes respostas da natureza aos descaminhos adentrados pela humanidade em escala global, a cada dia fica mais difícil de alegar-se que: “todo o complexo universo, o Cosmos, é uma combinação fortuita de átomos e moléculas“.

Ora, se um “big bang“ sem autor, sem planejamento, imprevisto, pudesse mesmo ter criado o colosso desse universo físico, seria razoável acreditar que esta ocorrência ao acaso também criasse a mente humana, a arte, a música, a ciência e o auto-sacrifício humano.

Portanto, para que não nos conformemos em sermos uma espécie de “mega-ameba“ ou ameba hipertrofiada e, prestes a nos auto-exterminar da face da Terra, temos que fazer um esforço, urgente, para encararmos as seguintes perguntas: Nessa concepção de atitude e conduta individualista, consumista e atéia que ora prevalece, a vida como a conhecemos poderia ter um significado transcendente? E, se não o tiver, a vida como a conhecemos poderia ser vivida se fosse, em última análise, desprovida de sentido? E, se o ser humano não pode viver sem que tenha, em última análise, um significado transcendental, é razoável crer que o universo foi criado sem um propósito significativo? E a ética e a moralidade podem ser justificados somente em termos terrenos, sem uma âncora situada além da humanidade?

Decerto que, com boa vontade e um pouco de esforço mental você, eu, nós e todo mundo podemos responder proativamente a todas estas questões e mudarmos a história. Até porque, a dependermos das ‘mega-amebas‘ hipertrofiadas, ensimesmadas e ineptas de plantão, o resultado – perfeitamente previsível – será o completo, total e geral fiasco; questão de tempo, apenas.

“Do caos à lama, da lama ao caos”... Cantaram escatologicamente – no Recife do meu querido Pernambuco – os saudosos Chico Science e seus meninos do movimento ‘manguebit’; militantes da criatividade com criticidade.

Concluindo, arrico aquí a minha modesta opinião afirmando que: somos obra de um grande e crítico artista - até porque só a arte crítica cria - e, tudo o mais é repetição ou mera indústria. E, como arte não é obra do acaso, ela é supera a amebas, ao caos e à lama.


União dos Palmares - AL, 30 de julho de 2008.

Cotidiana Miragem

Por George W B Cavalcanti


Meu cotidiano é circunstancia adversa,
Que faz desabrochar ao pensar parabólico;
Porque a sede de afeto só encontra a miragem.
Sou um novo nômade a trilhar corações de areia,
E o meu versejar árido se faz assim tão metaforico,
A se derramar em teclas e no cristal da tela colorida.

Desalentado e triste sigo a caminhar sozinho,
Em fatigante duna que minha emoção permeia;
Revivido pela lembrança que é névoa e refrigério.
Essa brisa, bruma breve que sorvo com sofreguidão,
Dessedenta-me e faz com que a estranha solidão passe.
No letárgico contar de horas e no fluir de uma esperança,
A tremular fugaz na miragem do oásis de um novo enlace.

Refugio-me à sombra da lembrança marcante,
De um momento de amor em total cumplicidade,
Que me aplaca a carência com sofrer e saudade.
Socorre-me a memória essa doce pretérita imagem,
Sombra solícita e gentil do prazer bem compartilhado;
Em íntimas e intensas trocas de aromas, hálito e alento,
Aquela excitação havida e demarcada pela boca e narina,
Volúpia e mutação de desejo que ensejou ao beijo molhado.

Imaginação percorre espaço em tempo reverso,
Sinto tudo em derredor transmutado em colméia,
Qual simétrico simulácro daquele toque anatômico,
O universo mágico construído em seu exíguo espaço,
Por abelha absorta a laborar e, seu milagre adocicado.
Sou zangão escolhido para um supremo gozo simulado,
E busco encontro etéreo no abraço da impiedosa rainha;
Obstinado par naquele vôo em espiral alço à culminância,
Mas, sobrevivo incólume ao transe dessa vil circunstância.

Volto à fantasia e vejo o meu singrar,
De navegante que é porto farol e nau,
Com vento a favor ao navegar o fluido.
A coragem em riste a abrir um caminho,
Recebe guarida em mucosas róseas e lilás;
Naquela arca de tesouro recatada e brilhante,
Entre instigantes formas e no vértice das coxas.
Percebo-me apenas memórias e sou total solidão,
Embarcado em desejos estou no devaneio à deriva,
A estranhar ser só em meio a estrelas e sóis virtuais.


União dos Palmares - AL, 29 de julho de 2008.

Espalhando luz

Por George W B Cavalcanti


De uns tempos para cá - e bota tempo nisso - percebo-me ora como um espelho, ora como uma vela. Esta, incandescente, queimando solitária e abandonada num canto qualquer da realidade e que, ao sabor das lufadas das intempéries do cotidiano teima em iluminar ao seu derredor com sua modesta, porem própria, chama. Impávida, quase lívida e silenciosa; inexorável a derreter-se e sobre si e, tendo como unicamente palpável o agregar substância e volume à sua própria base – ainda assim permanece firme e fiel ao seu compromisso com a luz.

Entendo que cada um de nós possui dentro de si o poder de iluminar aos outros. Quando a minha porção espelho - na dependência direta de imagens, luzes ou simples claridades - com sinceridade nua e crua reflete o que sobre si foi projetado, não se preocupa se agrada ou desagrada a eventuais 'bruxas' que o busquem para um veredito de beleza - como no consagrado conto que ouvimos quando crianças. Nesse instante existe apenas a contradança com o que ante ele se posta, indiferente se o tangível gosta ou desgosta da imagem refletida.

No constante dialogar de luzes com reflexos, coerentemente é exercido o que é inerente: refletir. Mas, nesse exercitar de projeções cada troca de idéias, cada expressão de sentimentos nos instrui quando deixamos cair nossas restrições contra novas informações.

É importante para entendermos que tudo o que nos acontece tem um propósito; cada evento ocupa um lugar certo em nossa atual etapa de desenvolvimento e nada acontece por acaso.

O que nos sentimos inspirados a repartir com outras pessoas - embora miríades desvalorizem a inspiração e neguem a importância do compartilhar - também vai fazer parte da construção de nós mesmos; do nosso perfil e do nosso resultado enquanto ser.

Somos iluminados pelos dons de percepção uns dos outros e a cada momento existe uma mensagem para ser colhida. A escolha de iluminar ou sermos iluminados nos espera, sempre!


União dos Palmares - AL, 27 de julho de 2008.

Tributo a Zubi dos Palmares

Por George W B Cavalcati


Ainda que descaso seja percalço ao caminhar,
E te queiram página esquecida face a negritude;
Os passos da memória consegues acompanhar,
Porque o teu exemplo tem a eterna juventude.

Tua mensagem faz do preconceito miragem,
Da tua voz ecoam verdades da maior grandeza;
Nos Palmares lutaste por justiça com coragem,
E niguém conseguirá roubar de tí essa nobreza.

Do teu nome a liberdade é guardiã fiel e dedicada,
E teus herdeiros aguerridos já se deram as mãos;
Dessa consciência emana a força da tua jornada.

Te agingantas no alto da Serra da Barriga famosa,
Perenemente prenhe de sonho, esperança e vitória;
Bendita herança africana, alma heróica e generosa.


União dos Palmares - AL, 25 de julho de 2008.

O atoleiro

Por George W B Cavalcanti


Uma nação atrás das grades, ao que me parece, é no que estamos nos tornamos a cada dia que passa. Porque se por um lado a indústria da construção de presídios cresce a ‘todo vapor’, por outro a população cidadã ordeira, trabalhadora e honesta tem que buscar se proteger atrás de grades nos mais diversos formatos – um país inteiro obrigado a ver ‘o sol quadrado’ literalmente; uma tragédia nacional.

A propósito, me vem à mente uma perola do discurso parlamentar atual: “no Brasil só falta formação de quadrilha de forma estatutária”. Mas, já cabe correção; pois a tirar pelo apurado nas últimas operações da ‘Federal’, isto já existe comprovadamente. Ora, com todo o respeito às nossas egrégias cortes, o que o nosso cidadão-contribuinte - que lhes paga abastados salários - quer mesmo é que cumpram, “prá ontem”, o seu basilar ofício de defender os interesses maiores da população brasileira.

Aliás, o quadro geral de insegurança social aponta para uma suprema inépcia na tipificação e punição do mega-furto de recursos públicos; endêmica e crescentemente logrado pelas sucessivas camarilhas que se incrustam nos poderes. Tudo, ‘seguindo nessa pisada como a cantiga da perua: de pior a pior’ como se diz por aqui. Pois, a título de ilustração do nosso panorama de renitente insegurança para a democracia e para o estado de direito, narro um pitoresco diálogo acontecido num desses nossos esquecidos ‘grotões’ nordestinos.

O 'causo' se deu mais ou menos assim: “Era inverno e, num entremeio de estio, um sujeito chegou todo afobado junto a uma ‘rodinha’ de populares que 'papeavam' sossegados sob a copa de uma pitombeira e gritou bem à moda do lugar: - ô gente, acudam que o meu carro está atolado! Ao que, um emproado do grupo respondeu perguntando; - espera aí macho, mas, está com as rodas da frente, com as de trás ou com as quatro atoladas? Eis que insistiu o apreensivo solicitante; - ‘oxente’ homem se avexe e, porque a pergunta? Aí, rebate o implicante; - ‘ôxe’ seu jumento, tem que explicar direito, tais vendo não; que com as rodas da frente é se atolou, que com as de trás é atolou-se e que com as quatro é, se atolou-se? E emendou, para deleite da sonolenta platéia; - nós temos que saber o certo não é pessoal? Ao que responderam em uníssono os congregados preguiçosos: isso, isso, isso! Finalmente, numa ‘rabissaca’, retrucou o aflito atolado; - ‘vixe’ abestalhados, vou é procurar uma turma de homens machos mesmo para resolver essa parada!...”

Moral da estória - concluindo a minha parábola: o povo não quer saber se a torrente de escândalos e violência que assola e vandaliza o país é: por ‘associação criminosa’, de ‘organização criminosa’ ou de ‘formação de quadrilha’... Não, distintos diletantes do eminente saber jurídico; entendam enfim que, o povo sabe muito bem quando é roubado, sabe quem roubou, sabe quem rouba e quem vai roubar, também. E, a essa altura, já chega às raias da paciência e quer punição exemplar para os culpados; e o quer urgente! Quer o império da lei e não uma lei do tempo do Império.

O povo parece haver compreendido enfim que os furos favorecem ao queijo suíço; mas que em se tratando de lei, de ordem e segurança pública (leia-se, segurança nacional), eles só fazem apodrecer o tecido social, as instituições e, enfim, toda a nacionalidade. E que, levam de roldão toda a nação para o atoleiro, não importando o 'juridiquês' ou o 'caipirês' com que se tente explicar o atolamento.


União dos Palmares - AL, 23 de julho de 2008.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A réstia

Por George W B Cavalcanti


Era por volta das onze horas num tempo feliz e o dia já ia alto, quando em minha peraltice vi e achei das cenas mais fulgurantes. Foi um facho de luz, um canal translúcido, a exibir as suas partículas, como se fora a poeira de um tempo preguiçoso a flutuar exibindo cansaço. Ali, diminutas e brilhantes, ora fagueiras ora lentas mas sempre mutantes, enquanto lá fora, a hora clara da lida lenta difundia no mormaço o seu hálito.

Àquela altura eu era um misto de inocência e de imaginação fascinada que vagava alheia às cenas domésticas da minha primeira morada; uma pequena ilha num mar de infindáveis e batidas rotinas domésticas, indiferente ao costumeiro pregão de um mascate que gritava na calçada. Tudo, então, parecia-me naquele afã uma novidade sempre surpreendente a trazer-me de chofre e, a qualquer momento, as mais exóticas facetas da vida.

Numa cidadezinha em que o cotidiano alternava os seus marasmos com eventuais burburinhos foi, na casa da minha infância, de lúgubres recônditos e chão de cimento - num instante de contemplação, em meio às minhas trelas e alegres correrias - que, a luz pertinaz e a fresta do telhado cúmplices deram-me o alumbramento.

Atônito, contemplei embevecido e, por pouco não saí dali voando até à pracinha para encontrar meus coleguinhas e, dizer-lhes em palavras entrecortadas pelo cansaço: Meninos olhem, eu juro que vi, o tempo descendo do céu numa encanação do espaço!


União dos Palmares - AL, 20 de julho de 2008.

O Náufrago

Por George W B Cavalcanti


A aeronave dos meus sonhos cai sob a ação de uma inclemente tempestade,
Num encapelado ambiente preservo a encomenda e busco a minha salvação,
Determino-me a cumprir a missão, mesmo que uma feroz procela me retarde;
Sou agente postal e levo ao destinatário a remessa preciosa que tenho na mão.

Açoita-me a chuva, cobrem-me as ondas e, pareço nadar e lutar em vão,
Mas, determinado eu sou e, sempre, com fé enfrento toda a adversidade,
No ar, no fogo, na água e na terra, pulsa em mim um responsável coração;
Sucumbo, volto à tona e recobro a consciência, o dever, o amor e a saudade.

Percebo-me vivo em praia deserta e, enfim a sós, eu e a minha própria verdade,
Caminhamos, contornamos e constatamos; somos ilha em outra ilha na imensidão;
SOS na areia, mensagem em garrafa e sinais de fumaça; sobrevivência em prioridade.

Lanço-me ao largo numa virtual flutuação e, aguardo socorro numa eventualidade,
Navego um oceano, fico à deriva e, alguém nos resgata; a mim, ao presente e à gratidão;
Para ensejar-nos então o final feliz, no precioso encontro da esperança com a solidariedade.


União dos Palmares - AL, 19 de julho de 2008.

Uma irmã para a Lei Seca

Por George W B Cavalcanti


Parece-me desesperadoramente premente que este nosso país renuncie a uma espécie de contracultura encruada e renitente que, ao invés de ser debelada alastra-se cinicamente. Ampliada que é pela acessibilidade cada vez maior aos recursos tecnológicos e à mídia desregrada e vulgar; essa que age como arauto-mor da falta de ética e da desconexão com a moral e com as leis.

Urge-nos revisitar os valores individuais e coletivos e fazermos um exame de consciência; batermos em nosso próprio peito e dizermos: “mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa”. Porque o que se torna evidente – para escândalo “intramuros” e escárnio “extramuros” – é que, face ao crescimento do país, agiganta-se a nossa imagem de uma nação que não cumpre o que determina para si mesma. Dissemina-se assim – para desespero do cidadão ético –, a imagem de um povo corrupto e não-confiável.

Porque a despeito de todo o aporte econômico e do desenvolvimento científico por aqui existente, insiste-se na coletivização do não-valor e dos vícios, da “esperteza à moda da casa”. São os endêmicos ganhos a qualquer custo, á base da antiga e mumifica “lei de Gerson”, ou seja: “o negócio é levar vantagem em tudo, certo?” –, e, isto é um ‘rondó’ de erros continuados. É um desejo compulsivo e imbecilizante pela orgia pecuniária. Uma espécie de embriaguez que nos causa uma inépcia civilizacional notoriamente acaçapante.

Então o cidadão trabalhador honesto e contribuinte é quem agüenta a “ressaca”, decorrente do nosso cenário político, com seu desfile interminável de governantes e autoridades que vivem a “babar no colarinho” por dinheiro e, com um gosto todo especial senão pelo ilegal, pelo ilícito. Mas, em tempo, não esqueçamos a máxima axiomática: “O político é o povo”; e o mau político é a nossa ‘cachaça’ de terríveis ressacas e característico mau cheiro.

Convenhamos, somos infelizmente e ainda um povo de caminhar trôpego no cenário da vida e, como bêbado, a tropeçar em seu próprio vômito. Concluindo ocorre-me lembrar-me inevitavelmente da cantoria de um “forró” por aqui executado à exaustão – desses atualmente feitos sob encomenda para o “gosto popular” – e, cujo refrão exalta a seguinte façanha: “beber, cair e levantar”... Pode até se levantar, mas o mau cheiro e a má fama já irão longe...

Prudentemente criou-se a ‘Lei Seca’ – de inquestionáveis positivos resultados – mas, parece-me urgente também a criação de uma outra; seria uma ‘Lei-Engov’. Quem sabe esta venha também acompanhada do crivo de respectiva maquineta - um 'corruptômetro', sugiro - específica para flagrar políticos infratores e aplicação de pertinentes pesadas multas, significativas perdas de 'pontos' e, até, sumária cassação da manjada 'habilitação' para dirigir o nosso destino.

Enfim, com um pouco de imaginação podemos antever uma drástica redução nos índices de acidentes políticos, de mutilação da dignidade e de mortalidade da cidadania em nosso país.


União dos Palmares - AL, 18 de julho de 2008.

Flor de Luz

Por George W B Cavalcanti


O Logos Universal semeou,
Extensão de Si em flores astrais;
Beleza viva para o Seu deleite,
Em infinitos planos dimensionais.

O Pleno Poder projetou-Se em criaturas,
Distribuídas em muitos níveis, graduais;
Na sopa cósmica, caldo primacial de enzimas,
Senso ético e pulsar estético; em seres ancestrais.

A Eternidade imprimiu em luz o desenho inteligente,
Sem ter principio e nem fim; o nosso rascunho original;
Tudo que foi desde sempre; para ser Seu fruto e semente.

O Amor concebeu Seus recipientes, conscientes e especiais,
Com tamanha expressão de beleza e aromas que a todos apraz;
Pétalas, buquês, canteiros e jardins; povoando as rotas siderais.


União dos Palmares, 17 de julho de 2008.

Asas machucadas

Por George W B Cavalcanti


Já foi dito que: "Amigos são anjos que nos levantam para voarmos quando as nossas asas estão machucadas". Mas, e se esses anjos viessem a ter, também, as suas asas machucadas, como é que ficaríamos?

Ora, sem seus elevados e celestiais serviços ficamos mais à mercê de pessoas que gostam de machucar anjos; esta é a resposta mais pronta. Sim porque a toda hora conhecemos pessoas – e são tantas... -, que são verdadeiras ‘seriais quebradoras' de asas angelicais terreais e, se possível lhes fora, das celestiais também; pecado dos mais nefandos e nefastos, pouco comentado e, menos ainda, combatido.

Uma verdadeira calamidade porque, sem voar anjos não protegem, não tocam os corações, não podem ajudar o amor, enfim, não podem ser anjos. E, sermos anjos - nem que seja por alguns momentos ao dia... - é consubstanciar na carne a inefabilidade do sublime e do divino; e, como o mundo está carente de angelicalidade!

Refiro-me aqui a uma conduta angelical sem pieguismos, afetações ou o manjadíssimo e suspeito semblante permanentemente cândido. Enfoco a verdadeira ação efetiva de cuidar do próximo e de curarmo-nos mutuamente nossas asas machucadas. Quando, enfim, alcançamos o mérito e profundo prazer em contemplar o outro na culminância do milagre.

O momento pleno de êxtase sublime e poético, que é ver o próximo a alçar vôo rumo à realização dos seus mais justos, queridos e acalentados sonhos. E, porque anjo é um ser de amor essencialmente amado e, portanto, inerentemente indispensável; à crença, ao devaneio, ao sonho... Mas, sempre ao nosso lado.


União dos Palmares - AL, 16 de julho de 2008.

Colchões, 'quentinhas' e, "verdinhas"

Por George W B Cavalcanti


Acredito que avançaremos pouco na solução dos grandes males que afligem a sociedade brasileira enquanto não considerarmos essas questões em suas raizes antropológicas.

Abordagem esta que, a meu ver, logo de início suscita o seguinte fato: que somos basicamente síntese e resultado de três (3) povos extremamente díspares - em espaço e tempo - cultural e tecnologicamente: o branco europeu corrido, o amerindio invadido e o africano escravizado. Os quais, por uma imposição histórica, viram-se na contingência de amalgamar-se em uma nova nacionalidade; ou seja, em nós, brasileiros.

Para que essa extraordinária empreitada desse certo, em nossos primórdios usou-se e abusou-se de três (3) mazelas, a saber: excessiva tolerância, excessiva permissividade - e promiscuidade - e frouxidão com as leis; aspectos estes necessários e até imprescindíveis àquela situação.

No entanto, com o passar do tempo tornaram-se mazelas e que continuamos a cultivar; embora de há muito não nos sirvam senão para nossa vergonha e prejuízos nos mais variados aspectos da nossa conduta e da imagem nacional, aqui e alhures.
Estes são alguns dos nossos cacoetes comportamentais herdados e que estão na raiz do nosso famigerado 'jeitinho brasileiro'; gênese das distorções de conduta e descaminhos que infelicitam nossa gente e retardam o nosso desenvolvimento.

Temos agido até agora como eternos bombeiros da ética e da moral, correndo daqui para lá para apagar a uma interminável sucessão de incêndios em forma de escândalos. Mas quase nada fazemos ou consigamos fazer para evitarmos que aconteçam de maneira tão acintosa e alarmante. E, o que é pior; se avolumam em gênero, número e intensidade e, com (in) conseqüentes estragos cada vez maiores.
Entendo seja o caso de se perguntar – mas tenho a impressão que neste solo pátrio, ainda, não muitos se dão ao trabalho de se fazer - : por que sob avalanchas de más notícias não se consegue soluções verdadeiramente eficientes e eficazes e, portanto, efetivas - como alcançado em outros países?

Como sugestão para a resposta, coloco, à reflexão, a seguinte questão: no Brasil quem ganha mais dinheiro com o ilícito, com a contravenção e o crime, os bandidos ou os 'mocinhos '?

Caso, ainda, você não esteja seguro da resposta, te dou uma 'deixa': analise isto no âmbito macro-econômico e perceba quanta gente nesse ‘rolo’ todo está ganhando muita ‘grana’.

Sim, é isso mesmo; com cargos, funções e atividades afins como: noticiar, investigar, prender, acusar, defender, julgar, apenar, construir presídios, fornecer suporte prisional-carcerário - ‘quentinhas’ e colchões inclusos -, serviços funerários e, de soltar bandidos neste país; é muito dinheiro envolvido nesse estranho viés de 'geração de emprego e renda', não é mesmo?

Agora se pergunte: em que medida estamos interessados em soluções eficientes e eficazes e, portanto, efetivas a este respeito, por exemplo?

Pensou melhor? 'Caiu a ficha?'

Pois bem!... E então?...

É... Parece-me que consciêntização e tomada de atitude já são um bom começo.


União dos Palmares - AL, 15 de julho de 2008.

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